Surgem novas vítimas do seqüestrador

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Por Agencia Estado
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Sentada com a mãe na sala de casa, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, V., de 19 anos, assistia na noite desta segunda-feira ao noticiário pela televisão quando viu Pedro Ciechanovicz, o Pedrão, ser apresentado pela polícia como o principal seqüestrador do Estado de São Paulo, responsável pela captura de 15 vítimas. V. se sentiu mal. A sensação foi de desmaio. Sua mãe, S., ficou com os olhos fixos na tela da tevê. Naquele instante, as duas se lembraram de novembro de 2000, quando foram seqüestradas por Pedrão e sua quadrilha. Mulher e filha, respectivamente, de um empresário do ramo de carnes, dono do frigorífico Bom Marte, de Presidente Prudente, S. e V. ficaram 56 dias seqüestradas. A garota passou seu aniversário de 17 anos no cativeiro e teve de comemorar a data com um bolo comprado pelos criminosos. Mãe e filha só foram soltas após o pagamento do resgate, no valor de US$ 100 mil. Nesta terça-feira à tarde, o delegado Edson Nakamura, da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise), de Presidente Prudente, foi ao Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), onde Pedrão está preso. O policial, acompanhado de outro delegado, informou que o objetivo era tentar ouvir o seqüestrador. ?Além do reconhecimento pela televisão, a descrição de mãe e filha sobre o cativeiro é idêntica à de outras vítimas da quadrilha?, disse Nakamura. As duas foram abordadas por três homens na manhã do dia 16 de novembro de 2000 e levadas para fora de Presidente Prudente. A cerca de 6 quilômetros da cidade, os bandidos entregaram mãe e filha para três comparsas, que estavam num automóvel da marca BMW. O carro rodou por algum tempo até chegar ao cativeiro. As seqüestradas tiveram de ficar dentro de uma barraca de lona, montada em um quarto que tinha lambris na parede. Num dos cantos do cômodo, havia uma barra de ferro no chão e, nela, duas correntes com algemas. Mãe e filha passaram todo o tempo algemadas. Durante a negociação para o pagamento do resgate ? a primeira exigência foi de US$ 1 milhão ? os seqüestradores, a exemplo do que ocorreu em outros casos atribuídos ao grupo de Pedrão, mandaram ao empresário uma fita de vídeo como prova de vida. As imagens mostravam mulher e filha com armas apontadas para suas cabeças. O delegado Everardo Tanganelli, do Denarc, que chefiou as investigações para identificação, localização e prisão de Pedrão, disse que esse tipo de ameaça de morte, com armas apontadas para a cabeça dos seqüestrados, foi uma iniciativa do bandido. ?Além das armas, ele colocava uma bomba no peito das pessoas. Foi isso que ele fez com Roberto Benito Júnior, que ficou 119 dias seqüestrado?, explicou Tanganelli. A foto de Benito Júnior no cativeiro, com armas apontadas para ele e uma bomba amarrada a seu corpo, faz parte do processo do seqüestro que se encontra na Justiça de Sorocaba. O delegado Nakamura, de Presidente Prudente, informou que mãe e filha contaram que Pedrão ia até o cativeiro todas as semanas. Numa dessas visitas, ele surrou um carcereiro. ?A garota disse para Pedrão que o carcereiro havia insinuado que pretendia namorá-la. Ele, além de espancar o comparsa, tirou o bandido do cativeiro. Pedrão exigia respeito com as vítimas?, disse o delegado. No dia do pagamento do resgate, os seqüestradores ordenaram que um filho do empresário de Presidente Prudente entregasse o dinheiro. Como em todos os casos envolvendo o bando de Pedrão, o pagamento foi uma ?gincana?, que começou às 18 horas no Shopping Paulista, no Paraíso, zona sul, e acabou às 22h30 na Ponte do Jaguaré, zona oeste. Sempre orientado pelo celular e retirando bilhetes em telefones públicos, o jovem foi orientado a jogar a bolsa com os US$ 100 mil do alto da Ponte do Jaguaré. Embaixo, na Marginal do Pinheiros, um motoqueiro pegou o dinheiro e foi embora. Mãe e filha foram deixadas no fim da madrugada do dia seguinte no pedágio da Rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a caminho de Sorocaba. De um telefone público, elas ligaram para o empresário, que foi buscá-las.

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