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Suzane termina depoimento e júri entra em recesso

Em depoimento de mais quatro horas, Suzane rebateu declarações de Daniel Cravinhos, que afirmou ter matado os pais dela sozinho, inocentando seu irmão, Christian. Júri será retomado nesta terça, às 10 horas

Por Agencia Estado
Atualização:

O julgamento de Suzane von Richthofen que confessou ter participado do assassinato dos pais, Manfred e Marísia, em 2002, terminou às 23h30 no Fórum Criminal da Barra Funda. O júri foi suspenso para recesso e será retomado às 10 horas desta terça-feira, 18. Em sua declaração de mais de quatro horas, Suzane contrariou tudo o que os irmãos Cravinhos disseram antes dela. Ela se defendeu das acusações de Daniel, segundo quem ela teria fumado maconha antes de conhecê-lo e não era mais virgem. Suzane rebateu as declarações, dizendo que apenas conheceu as drogas após começar o namoro com Daniel. "Eles insistem nesse conto, o motivo deste crime é o dinheiro", disse o advogado de Suzane, Mauro Nacif, rebatendo a tese da defesa dos Cravinhos, segundo a qual Suzane teria planejado a morte dos pais pois era abusada sexualmente por Manfred Richthofen. Para Nacif, o primeiro dia do julgamento foi favorável a Suzane. "Daniel e Christian Cravinhos mentem", disse Nacif, na saída do advogado do Fórum Criminal da Barra Funda. Antes do início interrogatório, Nacif, num gesto bastante fraterno, deu um beijo na cabeça de Suzane para tranqüilizá-la. Depois que o juiz Alberto Anderson Filho leu o resumo das acusações que recaem contra ela, Suzane disse que ia contar a história verdadeira e não a história que consta nos autos. Ela afirmou ter nascido numa família normal, bem estruturada e de bem e que teve uma vida tranqüila e boa com os pais, sendo vítima dos irmãos Cravinhos e dos pais deles, Astrogildo. Contando a história de sua vida até quando conheceu Daniel, Suzane manteve o mesmo discurso apresentado no programa Fantástico da Globo, em abril deste ano: mostrando-se uma menina frágil, ingênua, que mentia para os pais para poder ficar com o namorado, que a constantemente drogava e pedia que ela mentisse para os pais. Ela disse que começou a fazer caratê quando era adolescente e que na mesma época, seu irmão, Andreas começou a fazer aulas de aeromodelismo e foi lá que ela conheceu Daniel, por meio de seu irmão. Suzane contou que acompanhava as aulas do irmão, ministradas por Daniel, aos finais de semana e que começou a namorar com o consentimento da mãe dela. Contrariando o que disse Daniel em seu depoimento, a jovem disse que usou drogas pela primeira vez no Natal de 1999, acompanhada pelo namorado, que lhe ofereceu maconha. Suzane disse ainda que, nos dias anteriores ao assassinato dos pais, fumava maconha freqüentemente com Daniel. Suzane também disse que perdeu a virgindade com Daniel Cravinhos em janeiro de 2000, ao contrário do que ele disse. Ela disse que sua primeira vez aconteceu no aniversário de Daniel, na casa dele. Segundo Suzane, não foi da maneira que ela queria, e até mesmo triste. Segundo o depoimento de Daniel, ela havia perdido a virgindade com um outro namorado, quando tinha 14 anos de idade. Um dos argumentos da defesa é de que perdendo a virgindade com Daniel, a ré teria aumentando sua paixão pelo namorado e sua dependência dele, e por isso poderia ter planejado matar os pais, a mando de Daniel. Deus e Daniel Em um dos momentos mais importantes de seu interrogatório, Suzane disse que para ela era Deus no céu e Daniel na terra, tentando demonstrar que estava cegamente apaixonada. Ela contou que Daniel fazia propostas para que os dois viajassem sozinhos, por exemplo, para Caraguatatuba e disse que durante essas viagens era ela quem pagava tudo. Ela afirmou ter desistido da carreira diplomática porque teria de viajar para o Rio de Janeiro, e assim, ficaria longe de Daniel. Segundo Suzane, sua mãe, Marísia, considerava que Daniel tinha Suzane como a "galinha dos ovos de ouro". Suzane também negou que o pai abusava sexualmente dela, como afirmou Daniel. Por volta das 20h30, Astrogildo Cravinhos, pai dos irmãos Daniel e Christian, deixou o plenário, contrariado com as afirmações de Suzane, que disse ter pago as prestações de um carro que teria comprado para Daniel. Astrogildo disse que pretendia continuar acompanhando o júri, mas que apenas voltaria quando ela terminasse de falar. Porém, mudou de idéia e já está de volta ao plenário. A jovem se recusou a responder às perguntas da promotoria e da defesa dos Cravinhos. Porém, respondeu às questões feitas pelos jurados por intermédio do juiz. Para isso, Suzane chegou perto do jurados, ficando cara a cara com eles. Christian inocente Em seu depoimento, que durou 1 hora e 25 minutos, Christian Cravinhos repetiu a versão apresentada por seu irmão, Daniel, na tarde desta segunda-feira, 17, de que ele não participou do assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen. Christian disse que subiu ao quarto do casal, mas não golpeou nenhuma das vítimas. Ele disse ter ficado na janela vendo o irmão dar os golpes que mataram Manfred e Marísia. Ele disse que, depois de ter visto o assassinato, não conseguia dormir. Em suas declarações, Christian afirmou que Daniel e Suzane chegaram transtornados na casa da família Cravinhos dizendo que iam matar os pais dela. Quando encontraram Christian no cybercafé onde estava Andreas, irmão mais novo de Suzanne, levaram-no de carro até a casa dos Richthofen. A caminho da casa dois pais, já pretendendo matá-los, Suzane fumava um cigarro de cravo como se estivesse indo a um parque de diversões, disse Christian. Em seu primeiro depoimento, em 2002, Christian havia dito que atacara Marísia. Hoje, ele afirmou ter feito a confissão para proteger o irmão Daniel, esperando que a pena do irmão fosse abrandada. Pressionado pelo promotor Nadir de Campos Júnior, Cristian jurou pelos próprios pais que não havia batido em ninguém. Ele se recusou a responder às perguntas que o advogado de Suzane lhe fez. Christian disse ainda que o arrependimento é uma tatuagem no coração e que ele vai levar essa tatuagem até a morte. Mentira Para Mário Sérgio de Oliveira, um dos advogados de Suzane, a declaração de Daniel Cravinhos de que apenas ele participou do assassinato de Manfred e Marísia é uma estratégia da defesa dos irmãos Cravinhos. "É uma estratégia para que um seja condenado e o outro não. Ele pode falar o que ele quiser. Ele pode mentir à vontade porque ficou bem claro durante o interrogatório dele que ele mentiu", afirmou o advogado. Daniel inocenta o irmão Em depoimento que começou às 14h45 e durou quase três horas, Daniel Cravinhos, primeiro dos réus a prestar depoimento, admitiu que matou os pais de sua então namorada sozinho. além de dizer que matou o casal Manfred e Marísia von Richthofen sozinho, deu detalhes de seu relacionamento com Suzane von Richthofen, do relacionamento dela com os pais e do crime, dizendo que era muito inexperiente e se envergonha do que fez. Daniel disse que conheceu Suzane quando ela tinha 16 anos. A garota, segundo ele, teria perdido sua virgindade aos 14, com seu ex-namorado, com quem fazia caratê. O réu disse também que a jovem já fumava maconha antes de conhecê-lo e negou que tenha lhe dado cola ou ecstasy. As declarações de Daniel vão no sentido contrário à tese de defesa, de que Suzane teria se viciado durante o relacionamento com Daniel, de quem teria ficado escrava psíquica por tê-lo como primeiro amante. A defesa da jovem diz ainda que Suzane dava dinheiro a Daniel, o que o jovem também negou, reforçando que trabalhava desde os 14 anos e que, na época do crime, tinha um salário de R$ 2,5 mil e não precisava do dinheiro da jovem. Daniel se recusou a responder, sob orientação de seu advogado, Geraldo Jabur, a maioria das perguntas feitas pelo advogado da defesa de Suzane, Mauro Nacif, sendo a maioria delas sobre o namoro dos dois. Nacif insistiu em perguntas sobre o uso de drogas e o relacionamento sexual de Suzane e Daniel. Quando a defesa de Daniel teve a palavra, a advogada Gislaine Jabur repetiu algumas das perguntas feitas pela defesa de Suzane com o objetivo de esclarecer alguns pontos, como a questão das drogas. Daniel então revelou que Suzane já fumava maconha antes de conhecê-lo e negou que tenha lhe dado cola ou ecstasy. Até então, acreditava-se que Daniel teria tido a ajuda do irmão para dar os golpes que mataram o casal. Porém, Daniel contou que deu os golpes sozinho, primeiro em Manfred e depois em Marísia. Daniel disse também que sempre freqüentava o sítio da família Richthofen e que os pais de Suzane não eram contra o namoro, mas que começaram a brigar com a filha após uma viagem que ela teria feito sozinha com o namorado. Segundo Daniel, Suzane sempre quis matar os pais, pois Manfred batia nela com freqüência, além de abusá-la sexualmente. Daniel garantiu que matou o casal a mando de Suzane e que Andreas, irmão mais novo da jovem, não sabia do plano. Crime Suzane, seu ex-namorado Daniel e o irmão dele, Cristian, confessaram ter planejado e matado os pais dela, Marísia e Manfred von Richthofen, a golpes de barra de ferro, na casa em que a família vivia, em outubro de 2002. Os três foram denunciados pelo Ministério Público por crime de duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas. (Colaboraram Ellen Fernandes, Paulo Zulino e Fabiana Marchesi)

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