''Tão pequenas que ainda fazem xixi na cama''

Mais crianças vão para as unidades da Fundação Casa

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Por Fernanda Aranda e SÃO PAULO
Atualização:

Maria Isabel Melo, diretora da unidade feminina da Fundação Casa na Mooca, zona leste da capital, se espanta ao falar sobre a mudança de perfil das meninas que chegam ao local. "Tão pequenas que ainda fazem xixi na cama." Segundo ela, o fato de cada vez mais crianças serem internadas na Fundação, e por tráfico, reflete as mudanças estruturais do "lado de fora". "Elas nasceram de gerações que já estão presas, não têm vínculos, têm crises familiares, estudaram muito pouco, encontraram na rua um refúgio, o que torna o trabalho ainda mais complicado", diz, sem esquecer de citar as crises de abstinência que as deixam mais nervosas. "Nem as cartas, que antes eram tão utilizadas pelas garotas, agora fazem sucesso. Elas não escrevem para ninguém. Não recebem notícias de fora também." As meninas chegam de vários locais do Estado (a descentralização de unidades é fenômeno recente), mas cada vez mais da cidade chamada "cracolândia". Também vêm da Praça da Sé, dos bailes funks de Santos, no litoral paulista, das periferias do interior, e até da rebeldia da classe média da capital. Não importa de onde vêm, elas trazem motivos muito parecidos para chegar ao mesmo local. Flávia, Vitória e Samanta - nomes escolhidos por três meninas que antes dos 14 anos chegaram à unidade por tráfico e, por isso, não podem ter a identidade revelada - mostram que, quase por brincadeira, elas viraram traficantes. "Queria tênis, roupa, cuidar dos cabelos", conta Vitória que, vendendo, aprendeu a cheirar cocaína. "Eu só pensava em ter uma festa de 15 anos. Dançar a valsa, ter um vestido de princesa", afirma Flávia. Sem nunca terem se visto, as três coloriam uma borboleta na semana passada, atividade oferecida na Casa. Nunca pensaram que a transformação da adolescência seria tão marcante.

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