Tela roubada de Picasso estava em telhado de Cohab

Ladrão preso ao se preparar para outro roubo confessa participação; 3 obras continuam sumidas

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Por Thaís Pinheiro
Atualização:

Um dos quatro quadros roubados da Estação Pinacoteca no dia 12 de junho, O Pintor e seu Modelo (1963), de Pablo Picasso, foi recuperado na madrugada de ontem pela Polícia Civil de São Paulo. A obra estava com Uéslei Teobaldo Barros, de 30 anos, que foi preso quando se preparava para fazer um roubo a um caixa eletrônico em São Miguel Paulista, zona leste da capital, junto com dois comparsas: Weidy Oilton Pareja e o policial militar Edilson Vieira de Carvalho, do 19º Batalhão. Eles foram presos no estacionamento do Carrefour Aricanduva, na zona leste, por volta das 23 horas de sexta-feira. Policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) de Guarulhos chegaram ao trio por meio de escutas telefônicas há três semanas. Apenas Barros estaria envolvido no roubo da Pinacoteca. De acordo com os investigadores, a apuração era sobre uma quadrilha de traficantes e assaltantes de banco. Mas, durante o monitoramento, descobriu-se que Uéslei queria vender "camisetas" a R$ 1 milhão. Em depoimento, o ladrão alegou que não roubou a tela por encomenda, mas para ele mesmo vender. Uma outra versão surgida na delegacia é de que ele teria conhecido uma pessoa na cadeia, que seria o eventual comprador da obra. Uéslei estava em liberdade condicional - segundo o Garra, ele tem condenações por roubo, homicídio e tentativa de homicídio. Já a advogada dele - que não quis se identificar - não soube informar se ele tem passagens pela polícia, mas disse que ele não está em liberdade condicional. De acordo com o delegado Douglas Dias Torres, a gravura de Picasso estava escondida debaixo do telhado de um dos prédios do conjunto habitacional da Cohab José Bonifácio, em Itaquera, zona leste, logo ao lado de uma caixa d?água. Aos policiais, o ladrão contou que a tela estava escondida junto com o maçarico que seria utilizado pela quadrilha no roubo ao caixa eletrônico. Os policiais tiveram dificuldade para localizar o quadro no forro do telhado. A obra ainda estava envolvida pela mesma sacola utilizada para levá-la da Pinacoteca. Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, esteve na delegacia para onde Barros e a tela foram levados. Ele afirmou não ter dúvidas de que o quadro, de US$ 5 mil, é o mesmo que foi roubado em junho. "Ele está em ótimas condições", disse. "Nem foi retirado da moldura." No início da tarde, a obra foi levada para o Instituto de Criminalístical, onde deve ser periciado. Depois seria encaminhada ao museu, onde passaria por nova análise técnica - a Pinacoteca informou que só deverá receber o quadro no começo desta semana. Outros três suspeitos do roubo ainda são procurados e podem estar com as outras obras. Um deles foi identificado como Marcelo Dias de Souza. As telas levadas da Estação Pinacoteca, além da gravura encontrada, são: Mulheres na Janela (1929), óleo sobre cartão de Di Cavalcanti; Minotauro, Bebedouro e Mulheres (1933), outra gravura de Picasso, e Casal (1919), guache sobre cartão de Lasar Segall. Ao todo, as quatro obras roubadas são avaliadas em R$ 1 milhão. No dia 12 de junho, os ladrões chegaram por volta do meio-dia à Pinacoteca, pagaram o ingresso e subiram para o segundo andar. Como não havia vigilante na sala de monitoramento, o trio agiu tranqüilamente. Demorou poucos minutos para desparafusar as telas da parede. Um quarto bandido aguardava o grupo em um veículo. O secretário de Estado da Segurança, Ronaldo Marzagão, declarou que a polícia está mobilizada para conseguir recuperar os outros três quadros roubados da Pinacoteca.

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