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Temor de invasão de prédios cria tensão no RS

Por Agencia Estado
Atualização:

O temor de invasão do prédio da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), detectada pela Brigada Militar, levou também ao Rio Grande do Sul, nesta quinta-feira, o clima tenso vivido durante a semana no interior de Minas Gerais e de São Paulo, onde propriedades rurais de familiares e amigos do presidente Fernando Henrique Cardoso foram invadidas. Como teve seu recurso - um interdito proibitório - negado pela Justiça, a Farsul contratou uma empresa de segurança para vigiar sua sede, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Edifícios públicos como as sedes regionais do Incra, INSS e Banco do Brasil também seriam potenciais alvos do MST, segundo o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Nelson Antônio Rodrigues, que enviou ofício para alertar os responsáveis pelos órgãos. A justificativa oficial é de que o temor das invasões nasceu de ameaças dos líderes nacionais do movimento, divulgadas pela imprensa, de que haveria uma série de ações em todo o País. Os funcionários da Farsul foram dispensados nesta quinta-feira, e não é certo que voltem ao trabalho na segunda-feira. "Foram retirados do prédio computadores, arquivos e objetos que pudessem ser depredados", disse o advogado da entidade, Nestor Hein. Em defesa dos sem-terra, o deputado Dionilso Marcon (PT), eleito pelo movimento, acusou a Brigada Militar de querer espalhar um clima de terror no Rio Grande do Sul e assegurou que nenhuma invasão está prevista para estes dias. "Este é um período em que os católicos priorizam os reencontros familiares e os momentos de reflexão", disse, referindo-se às convicções religiosas da maioria dos sem-terra. Admitiu, no entanto, que o MST prepara manifestações para o Dia Internacional de Luta pela Terra, 17 de abril. Situações de tensão, brigas na Justiça e acusações públicas entre os sem-terra, os produtores rurais e a Brigada Militar se tornaram quase rotineiras no Rio Grande do Sul desde que, ainda antes do nascimento do MST, 240 famílias de agricultores expulsos da reserva indígena de Nonoai ocuparam as fazendas Macali e Brilhante, em Ronda Alta, em 1979. Nos últimos anos cresceu entre os produtores a idéia de recorrer a um esquema de segurança paralelo ao estatal. Os sem-terra acusam a Farsul de incentivar a montagem de milícias particulares. "Jamais faríamos o que condenamos que os outros façam", rebate Hein, admitindo, no entanto, que a Farsul é favorável à contratação de empresas habilitadas a proteger as fazendas. "Mas isso esbarra na pequena capacidade financeira dos produtores", comenta, informando que não tem conhecimento de alguém que tenha conseguido pagar o serviço. A disseminação de informações - verdadeiras ou não - e algumas demonstrações de força fazem parte da guerra psicológica entre os dois lados. A montagem de um acampamento à beira de uma estrada é sinal de que haverá invasão na região. Ivanete Tonin, militante do MST, diz que é comum, nesses casos, a passagem de caminhonetas com pessoas armadas pelas proximidades para intimidar os sem-terra. Quando se sentem ameaçados, os produtores têm recorrido a vigílias armadas na sede das fazendas que podem ser invadidas. "Isso ocorre, e é um ato de solidariedade entre vizinhos apoiado pela Farsul", confirma Hein, ressaltando que a mobilização é feita nos limites da lei. O último desses atos foi em janeiro, quando o governo do Estado anunciou a desapropriação da Fazenda Santo Antônio, em Aceguá. Temendo uma invasão, os produtores da região ficaram alguns dias na sede da propriedade. O processo de desapropriação ainda está tramitando na Justiça. Apesar da tensão permanente, os conflitos abertos têm sido raros nos últimos anos, embora as invasões continuem. Os confrontos de maior repercussão aconteceram em 1988, quando peões da Fazenda Santa Elmira, em Cruz Alta, retiraram alguns sem-terra à força, e em 1990, quando os invasores mantiveram os proprietários da Estância São Pedro, em Bagé, em cárcere privado por mais de 24 horas. O conflito mais grave ocorreu fora do campo, no centro de Porto Alegre, em 1990. Dispersados à força pela Brigada Militar quando faziam uma manifestação da Praça da Matriz, os sem-terra saíram correndo pelas ruas próximas e mataram um soldado.

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