Tendência é cada vez menos mulheres nuas

Corpo feminino menos exposto é evolução natural da folia, dizem carnavalescos

PUBLICIDADE

Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

A alegria de muito marmanjo pode estar chegando ao fim: segundo carnavalescos de escolas de samba de São Paulo, a tendência é de que as musas das avenidas cubram seus corpos cada vez mais - ou, ao menos, um pouco mais. Eles dizem que trata-se de uma evolução natural do carnaval, que passou a respeitar mais a mulher e quer descolar o rótulo de ser apenas uma festa libertina."Já não há espaço para apelação. Hoje, mulher pelada nos desfiles só se estiver completamente coerente com o enredo", diz o carnavalesco da Vai-Vai, Chico Spinosa, há 21 anos no ramo. "As escolas estão investindo mais na beleza das fantasias. É até uma questão de respeito, não se pode tratar as mulheres como se fossem ?aviõezinhos? de propaganda, levando seus corpos para lá e para cá", afirma Spinosa. Ele cita exemplo da própria escola: "No carro ?Cortejo de Apolo? (de motivação greco-romana), poderíamos mostrar mais o corpo das mulheres, mas preferimos caprichar nas fantasias", diz, apontando para as nove mulheres que sambavam na alegoria, usando biquínis amarelos de tiras largas, com enfeites de pedras e paetês para esconder o colo, e de costas cobertas por plumas alaranjadas. O carro abre-alas da Pérola Negra, quarta escola a desfilar, sábado, no Anhembi, talvez tivesse a maior justificativa para explorar a nudez dos personagens - homenageava a tribos indígenas - e, ainda assim, deixou passar. As 12 dançarinas do carro alegórico estavam vestidas com roupas de lycra bege do pescoço ao tornozelo. "Não é por ser recatado, mas uma simples questão estética. As fantasias ficaram muito bem feitas", diz o carnavalesco da Pérola, Delmo de Moraes. "Tento valorizar a beleza da mulher com boas fantasias." O aumento no comprimento de alguns figurinos, justificam os especialistas, também é uma preocupação com a imagem das escolas de samba. "A gente trabalha duro o ano inteiro e o pessoal pensa que carnaval é só mulher pelada, especialmente os estrangeiros. Não é por aí, não", diz o carnavalesco da X-9 Paulistana, Raul Diniz. "Nudez já não chama mais tanta a atenção, nem conta nota para os jurados." Entre as musas das escolas de samba, a maioria parece não se importar em mostrar o corpo na avenida. E até estranham quando isso não ocorre: depois de anos desfilando só de fio-dental na Camisa Verde e Branco, a dançarina Tatiane Ferreira, de 29 anos, 1,71 metro de altura, 110 de quadril e 90 de busto, estranhou o calor por conta da roupa que vestia - um vestido transparente de renda bege que descia um palmo da cintura. "Queria mesmo é tirar tudo", diverte-se. "Sou vaidosa, fico muito à vontade." Mantendo a tradição de pouca roupa no carnaval - "o auge da nudez foi no início dos anos 1990, com a Monique Evans", explica Chico Spinosa - está Lana Moraes, de 27 anos, destaque da Mocidade Alegre, toda pintada de dourado, vestindo apenas tapa-sexo e duas flores vermelhas para encobrir os seios. "Sou a Vênus de Milo, de Botticelli. Encarei o desafio e gosto muito. Precisando, ficaria nua, sim", diz. E há quem encare o desfile como oportunidade para o futuro. "Aceito o papel que me dão, sem perder de vista os benefícios que pode trazer para minha carreira", diz a rainha da bateria da Mocidade Alegre, Nani Moreira, de 29 anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.