Terminais do interior ficam às moscas, apesar de investimentos

Vazios, aeroportos com boa estrutura refletem desinteresse das empresas

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Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

Vencido pelo tédio, o vigia Alecsandro Teixeira dorme profundamente, debruçado sobre a mesa da sala de embarque do Aeroporto de Registro, a 185 km de São Paulo. Este mês, como nos anteriores, não viu um único passageiro. Apesar de ter sido construído em 2004, o terminal nunca foi usado. A pista de 1.500 metros, para aviões de médio porte - como Fokker 100 -, serve apenas a pequenos aviões agrícolas. O aeroporto de Registro é um exemplo de que a falta de planejamento é regra no setor. Na maioria dos 31 aeroportos do interior, há boas estruturas, porém ociosas por falta de interesse das empresas aéreas. Em Registro, a ampliação do campo de pouso e a construção do salão de embarque, com sala de espera e banheiros, foi anunciada pelo governo paulista em 2002. Mas o aeroporto não reabriu - a pista não tinha faixas laterais de segurança. O Daesp obteve licenciamento ambiental para remover a vegetação, mas as áreas eram particulares. A emissão de posse ainda não foi dada e nenhuma companhia manifestou interesse de operar na região. Apesar de interditada, a pista é usada por aviões agrícolas que pulverizam bananais. E para pousos de emergência. Em seu cochilo solitário, na tarde de quarta-feira, Teixeira não viu a aterrissagem do monomotor do empresário Francisco Bragante. Viajando de Jundiaí para o Rio Grande do Sul, o empresário-piloto viu nuvens escuras na região de Cajati (SP). "O tempo fechou e ficou perigoso continuar. Essa pista apareceu como um porto salvador." A localização do aeroporto é estratégica, diz ele. Está entre São Paulo e Curitiba, numa região sem pistas. "É a melhor pista da região litorânea. Não entendo por que está desativada." O vigia Teixeira, à noite, aborda casais que usam a pista como motel e tenta evitar rachas como o que causou, em 2006, a morte de um motociclista. Depois do acidente, o acesso à pista foi bloqueado. Em Franca, a 400 km de São Paulo, o aeroporto também está ocioso. A pista de 2 mil metros perdeu 210 metros com a abertura de uma avenida junto à cabeceira. O aeroporto ocupa uma grande área. A torre de controle não recebeu equipamentos, por isso a operação noturna é visual. A empresa Passaredo é a usuária exclusiva do amplo terminal de embarque, inaugurado em 2004. O único vôo parte às 6h10, para Guarulhos, passando por Ribeirão Preto, onde há conexões para Salvador e Brasília. O avião de 30 lugares volta às 23h45. Há ainda vôos executivos. De janeiro a julho, passaram por lá 4.298 passageiros - o aeroporto de Ribeirão Preto embarcou mais de 220 mil no período. Em Sorocaba, o Daesp investiu quase R$ 2 milhões para construir um terminal de 800 metros quadrados, para até 700 usuários, que está às moscas. A obra, inaugurada em 2004 pelo ex-governador Geraldo Alckmin, era reivindicada por TAM, Pantanal e Ocean Air. Depois de pronta, as empresas se foram. A última, a Ocean Air, alegou falta de passageiros. Não fossem os aviões pequenos e jatos, o salão de embarque estaria fechado. O colapso de Congonhas levou a prefeitura de Sorocaba a sonhar com a cidade como opção. Novos acessos foram entregues esta semana. O aeroporto de Penápolis, a 480 km de São Paulo, é quase um terminal fantasma. Apesar da pista de 1.500 metros por 30 de largura, só recebe avião pequeno. Não há pousos e decolagens à noite por falta de iluminação. De janeiro a julho, só 455 pessoas passaram pelo local. O aeroporto estadual de Itanhaém, no litoral sul, recebeu, desde 2000, investimentos estaduais na ordem de R$ 6 milhões. Mas na sexta-feira, quando o Estado visitou o aeroporto, não havia um único passageiro no terminal. O Daesp informou que o uso dos aeroportos depende do interesse das companhias.

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