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Testemunha contra Andinho agora nega depoimento

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de ter relatado, em depoimento à polícia, a participação de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, na morte do prefeito assassinado de Campinas, Antonio da Costa Santos, conhecido como Toninho do PT, Cristiano Nascimento de Faria, o Cris, comparsa de Andinho, negou tudo em juízo, na primeira audiência de acusação do processo que apura o assassinato do prefeito. Andinho é o único acusado vivo do processo. Ele participou da audiência um dia depois de ter sido condenado a sete anos de prisão, por outro homicídio. Outros três acusados do assassinato do prefeito, inclusive o autor do disparo que matou Toninho, foram mortos em confrontos com a polícia. Durante as investigações policiais, Cris depôs duas vezes, na presença de advogados e promotores, e acusou Andinho de estar dentro do Vectra de onde partiu o tiro que matou Toninho. Hoje, negou tudo. Afirmou que fez a acusação sob ?pressão psicológica?. Não reconheceu sua assinatura no depoimento, nem uma fotografia sua, tirada antes de ser preso. Mas Cris não negou a participação, na morte do prefeito, de outros três membros da quadrilha de Andinho: Anderson José Bastos, o Anso; Valmir Conte, o Valmirzinho; e Valdecir de Souza Moura, o Fiinho. Os dois primeiros foram mortos em confronto com policiais civis de Campinas, em Caraguatatuba. Fiinho morreu ao tentar fugir da polícia de São Paulo, em uma chácara em Itu, onde Andinho foi preso em fevereiro deste ano. Cris, que durante seu depoimento trocou sorrisos com o réu, afirmou desconhecer as atividades de Andinho, e que ele praticava seqüestros. O depoimento de Cris foi o primeiro, e o mais longo, dos oito tomados hoje. Em seguida depuseram um perito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo e o delegado do DHPP, Luiz Fernando Carvalho, que concluiu o inquérito e denunciou Andinho ao Ministério Público. Também foram ouvidas uma vítima de seqüestro, duas vítimas da tentativa de latrocínio que teria sido cometida pela quadrilha minutos antes da morte do prefeito e duas testemunhas que ouviram tiros e viram o carro do prefeito no local onde Toninho foi encontrado morto. A vítima de seqüestro havia ficado em cativeiro junto com a filha de 16 anos na noite do assassinato de Toninho, em 10 de setembro. Apesar de os seqüestradores estarem encapuzados, ela reconheceu Andinho como líder do grupo, reconheceu ainda Anso, Fiinho e Cris - pelos olhos e formato do rosto. A seqüestrada, que permaneceu cativa entre 6 e 13 de setembro, escutou numa noite um dos seqüestradores, que não era Andinho, falando ao telefone sobre a morte do prefeito. O seqüestrador, conforme a testemunha, teria dito frases como: "Mataram o prefeito", "Que estupidez, que burrice", "Não precisava matar", "Só podia ser amador fazendo uma coisa dessa", "Deixa de ser burro". O tom de voz do seqüestrador era de "muita raiva e decepção", conforme a vítima. Ela contou que não acreditou na conversa que ouviu, imaginando ser "jogo" do grupo para assustá-la. Mas depois foi procurada por um dos seqüestradores, que ela identificou como Cris. Ele lhe teria dito que a morte do prefeito havia sido um crime político, em favor dos pobres, citando os moradores dos arredores do Aeroporto de Viracopos, que serão transferidos, por causa da expansão do terminal. Além dos depoimentos das testemunhas, os promotores de acusação se apoiam nos laudos de balística de duas armas usadas no seqüestro de um menino de 9 anos, crime confessado por Andinho, ocorrido alguns dias depois da morte do prefeito. Uma das armas, uma pistola calibre 45, foi usada também na tentativa de latrocínio, pouco antes da morte do prefeito. Outra arma usada no seqüestro do garoto, uma pistola nove milímetros, foi a que disparou o tiro contra Toninho. Há ainda o edredon da vítima que depôs hoje, levado com ela no seqüestro e encontrado no carro onde foi seqüestrado o garoto de nove anos. Para o promotor Fernando Viana, os depoimentos reforçaram a tese de participação de Andinho no crime. "Pelas circunstâncias apuradas, o modo de operação da quadrilha, temos convicção que Andinho estava no carro no momento do assassinato", afirmou. Ele disse que a negativa de Cris já era esperada. O defensor público nomeado para defender Andinho, Silvio Artur Dias, tratou a tese como "peça de ficção". De acordo com ele, mesmo que o crime possa ser atribuído à quadrilha de Andinho, não há provas de que o próprio Andinho estivesse no carro no momento do crime. "Ao Ministério Público compete provar isso", afirmou. Para Dias, no inquérito há "depoimentos explosivos que podem mudar o rumo do caso". Ele referiu-se ao depoimento, ouvido quando o inquérito estava concluído, do garçom de um bingo de Campinas que teria escutado uma conversa sobre a morte de Toninho. Dias demonstrou que pretende explorar esse depoimento. "O que o garçom falou não se sustenta. Não há como dar crédito a esse depoimento", garantiu o promotor Viana. Ainda não há data para a próxima audiência do processo da morte de Toninho, mas pelo menos outras 16 testemunhas de acusação e oito de defesa deverão ser ouvidas, conforme Dias. Andinho deveria voltar para o presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, mas a polícia não revelou como, nem quando. Uma escolta de 75 PMs garantiu a segurança na passagem do seqüestrador por Campinas.

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