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The End

Por Antonio Prata
Atualização:

Bem que eu gostaria de aproveitar a derradeira crônica do ano para desejar a todos um ótimo 2009, mas não posso, caro leitor, pois sei que o ano que começa em 72 horas será o último de nossas curtas vidas. Eu, você, os gafanhotos, as alcachofras, a Rua Aspicuelta, o Monte Everest, até Plutão - que mal se recuperou de ter sido rebaixado a não-planeta do Sistema Solar - seremos engolidos por um buraco negro, assim que os cientistas ligarem as chavinhas e fizerem prótons se chocarem à velocidade da luz, num bambolê de 27 quilômetros, enterrado cem metros abaixo do solo entre a França e a Suíça, em algum momento entre janeiro e dezembro. Os físicos que construíram a máquina juram que nada de mau vai acontecer: as partículas colidirão, dando origem a um pocket Big Bang e os dados registrados por moderníssimos computadores ajudarão a elucidar grandes enigmas da natureza. Qual a origem da matéria? Como foi o início do universo? O que aconteceu um milionésimo de segundo depois desse início? Há quem diga, contudo, que não haverá pesquisa alguma, pois a colisão criará um buraco negro que sugará a Terra e tudo o que está em volta, fazendo com que o universo volte a ser o que era um segundo antes de surgir, o que quer que isso signifique. Dois desconhecidos cientistas americanos, Walter Wagner e Luis Sancho, entraram com um processo num tribunal de Honolulu, tentando proibir a experiência. Eu não entendo patavinas de física, mas acho que, se a quixotesca dupla do Havaí estiver certa e o mundo acabar, teremos ao menos um final bem bonito para a nossa história. Veja se não é poético: o homem, único animal que sabe que existe e deixará de existir; o homem, que foi expulso do Paraíso por sua curiosidade; o homem, que vaga há milênios por terras e mares perguntando-se "que cazzo fazemos aqui" e arranca os cabelos, escreve óperas e enche-se de aguardente ao pensar "que cazzo faremos depois daqui?" volta ao pó do qual veio porque resolveu chocar minúsculas bolinhas para descobrir o início de tudo. O fim já estava inscrito em nosso começo, a busca do herói pela luz é o que o leva ao abismo não é nem de longe um final feliz, mas o leitor há de concordar que, ao menos, trata-se de excelente dramaturgia. Claro que eu preferia um happy end. Ainda mais agora que os EUA elegeram o Obama, o Ronaldo ia jogar no Corinthians e parecia que tudo estava se ajeitando, mas, se for para terminarmos mal, prefiro que seja assim: rápido, grandioso e indolor. Ou você acharia melhor definhar por causa da falta de água, morrer asfixiado por causa da fumaça dos engarrafamentos ou cair fulminado com as artérias entupidas pela gordura trans dos biscoitos recheados? Que choquem as bolotas, que toquem as trombetas, que o pocket Big Bang ponha o mundo no bolso - e seja o que Deus quiser.

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