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Tiros entre polícia e traficantes assusta moradores do Rio

Jornalista do portal testemunha tiroteio Rio de Janeiro - 3:30 da madrugada desta Sexta-feira. Dormindo com a televisão ligada, sou acordado com um forte som de rajada de tiros e estrondos. Na tela da TV, no entanto, a programação, com volume bem mais baixo, era outra: um desses seriados de comédia leve americanos, mas que o susto nem permitiu ver qual era. O som alto de tiros e seus impactos, explosões e zunidos vinham de fora e estavam bem próximos. Do quarto de um hotel em Ipanema, não foi difícil perceber que se tratava de um tiroteio com armas de alto calibre em algum lugar próximo, provavelmente um morro. Mesmo sem poder ver, estava nítido se tratar de um confronto, já que as rajadas, que leigamente imagino serem de fuzis, eram prontamente respondidas por um disparo que provocava um grande estrondo, como uma explosão: granada, bazuca? Intercalado por breves silêncios, o tiroteio continuava cada vez mais agressivo. Logo após os tiros do provável fuzil, era possível ouvir também o impacto dos projéteis atingindo algo, o que produzia sons igualmente altos, ora metálicos, vindos talvez de um portão, ora mais secos, provavelmente de paredes. Num dos intervalos silenciosos mais longos, arrisquei uma olhada pela janela. Dali, não era possível ver nada, nem mesmo algum morro, somente prédios, o que de certa forma tranquilizava, pois assim, imaginei, estava fora do campo de batalha e o risco de uma bala escapar para o lado de cá seria menor. Mas bastava o tiroteio recomeçar para essa pequena sensação de segurança desaparecer. Os som dos disparos cortando o ar davam a certeza que poderiam viajar para qualquer direção. Uma hora depois, agora com maiores intervalos, o tiroteio continuava. E já com o dia claro, às 6 da manha, ainda ouviam-se alguns disparos. Nesse tempo todo, nem uma sirene tocou. Apenas com o nascer do sol foi possível escutar um helicóptero sobrevoando a região. Vou dormir sem saber do que realmente aconteceu. Ao acordar, algumas hora depois, procuro alguma informação pela TV, mas vejo o fim trágico de um sequëstro numa escola russa. Coincidentemente, num dos flashes os sons da ação no colégio russo eram iguais aos que escutei na madrugada, só que com volume bem menor. Saio pela ruas de Ipanema e penso que os cariocas já devem estar acostumados com isso e que o medo que senti atinja somente os forasteiros. Num café na Visconde de Pirajá, no entanto, uma moradora comenta com a balconista que também não dormiu por causa do tiroteio. E me conta que um homem foi atingido por uma bala perdida ali pertinho, na General Osório. Mas me tranquilizou dizendo que ali onde estávamos as balas não chegavam. E logo depois lamentou com a balconista que não pode ir a sua ginástica, por não haver dormido. Lendo o notíciario online de um jornal local, descubro que o tiroteio aconteceu no Morro do Cantagalo, aqui por perto, que a polícia ocupava os seus principais acessos e que uma bazuca havia sido apreendida. O homem que foi vítima da bala perdida, segundo o noticiário, trabalhava num bar e levava a calçada quando foi atingido. Edmundo Leite

Por Agencia Estado
Atualização:

Para evitar mais uma guerra entre traficantes rivais, a polícia montou ontem uma operação simultânea em quatro favelas da zona sul. No morro do Cantagalo, em Ipanema e Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, a intensa troca de tiros com os policiais assustou moradores da região. A ação também ocorreu no Vidigal e na Rocinha, onde foram apreendidas dez mil munições e quatro armas. O material estava enterrado na mata, no alto da favela. O serviço secreto da polícia descobriu que traficantes do Pavão-Pavãozinho, morro dominado pela facção criminosa Comando Vermelho (CV), se preparavam para invadir o Vidigal. O morro, que também era do CV, foi tomado na terça-feira pela facção rival Amigos dos Amigos (ADA). A Secretaria de Segurança confirmou a informação e mobilizou 466 policiais para a operação de ontem. As favelas da zona sul estão em guerra desde abril, quando a Rocinha foi invadida por um grupo rival.O confronto deixou 13 mortos. Segundo o comandante do 23º Batalhão (Leblon), coronel Jorge Braga, a troca de tiros, mais intensa no Cantagalo, começou com a chegada da polícia. "Eles (bandidos) fizeram uma contenção forte. Foi difícil dominar o morro." Durante a operação nas quatro favelas foi apreendido grande material bélico. Além das dez mil munições, armas e carregadores na Rocinha, os policiais encontraram no Cantagalo um lança-rojão modelo AT 4, carregadores, 15 quilos de maconha, três gramas de cocaína, munição, duas toucas ninja e uma camisa com a inscrição da Polícia Civil. Wendel Letício Dantas da Silva, de 20 anos, foi preso no Cantagalo. Com ele, foi achado o lança-rojão. Medo O intenso tiroteio no Cantagalo e no Pavão-Pavãozinho deixou marcas de balas em árvores e em prédios. Apesar disso, o único ferido na ação foi Ricardo Lima, de 25 anos, atingido de raspão na perna quando abria um bar perto da Praça General Osório (em Ipanema), que fica próxima ao morro. Moradores lembraram os momentos de terror. "Estava dormindo quando ouvi os tiros. A gente sai da Flórida onde tem furacão e vem para o Brasil onde tem bangue-bangue", disse o americano aposentado Mccandless, de 76 anos, que tem uma casa nos EUA mora aqui há dez anos. "Foi um tiroteio pesado, mas a gente já está acostumado. Isso (troca de tiros) é coisa antiga por aqui.", contou o fiscal da prefeitura Cláudio Fonseca, de 44 anos. Com medo dos tiros, duas escolas municipais e uma particular fecharam as portas em Ipanema. Já o comércio funcionou normalmente. Uma equipe da Produtora O2 estava com filmagem marcada no morro e teve de cancelar a ida. Algumas cenas de um episódio da série "Cidade dos Homens", que é exibida pela Rede Globo, seriam feitas no Cantagalo, sob direção da atriz Regina Casé.

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