''Tô cagando para o capitão'', teria dito tenente

Polícia pretende pedir quebra de sigilo de oficial acusado pelo crime

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Os depoimentos de 8 dos 11 militares acusados do crime apontam para o tenente Vinícius Ghidetti como único responsável pela operação. Mesmo depois de ter recebido a ordem de um capitão para liberar os rapazes, Ghidetti teria decidido dar um "corretivo" nos jovens. "Tô cagando para o capitão", teria dito o oficial, segundo os praças que prestaram depoimento ontem. Houve oito depoimentos entre 13 horas e 21h30. O delegado Ricardo Dominguez ouviu os acusados para determinar a participação de cada um no episódio. Os 11 militares estão detidos no 1º Batalhão desde domingo, quando a Justiça determinou a prisão temporária do grupo por dez dias. O advogado Márcio Frazão, que defende três dos acusados, disse que o delegado já havia decidido indiciar os 11 sob a acusação de seqüestro. "Em conversa extra-oficial, ele confirmou que vai estabelecer a participação de cada um e três ou quatro seriam indiciados também sob a acusação de homicídio triplamente qualificado." Até o fechamento desta edição, Dominguez não havia confirmado a informação. De manhã, o delegado adiantou que pretendia pedir a quebra do sigilo telefônico do tenente por suspeitar que o oficial teria feito contato prévio com traficantes da Mineira, antes de levar os rapazes para o morro. "Vejo indícios fortes de envolvimento dos militares com o tráfico. Eles entraram e saíram do morro com facilidade, sem conflito." O advogado Walmar Flávio de Jesus, que defende um sargento e três soldados, disse que todos negaram qualquer telefonema. "Estavam apenas obedecendo ordens de seu superior. Foram informados de que deixariam os jovens no Sambódromo e acabaram cercados no Morro da Providência." Os depoimentos divergem quanto à participação do sargento Leandro Maia Bueno. Houve quem dissesse que ele foi pego de surpresa e outros que acompanhou o tenente na ação. Frazão defende os sargentos Bruno Eduardo de Fátima e Renato de Oliveira Alves e o soldado Sidney de Oliveira Barros. Segundo ele, os três contaram que chegaram ao quartel do Santo Cristo, na manhã de sábado, e foram convocados para fazer a guarda de um caminhão do Exército. No veículo estavam os três moradores da Providência, detidos por desacato. "O Bruno, que é de Juiz de Fora, ouviu que os rapazes seriam deixados no Sambódromo para que voltassem a pé, como um corretivo. Mas ele percebeu que o caminho tomado foi outro." De acordo com o advogado, os militares contaram que desceram do caminhão quando o veículo já estava cercado por traficantes na Mineira. "Cada um tomou posição para se defender. Um deles ficou atrás de um poste. O Bruno disse que nunca viu tanto civil armado." Segundo a versão dos três militares, eles teriam ficado na base do Morro da Mineira e não acompanharam a entrega dos jovens aos traficantes. JUSTIÇA Ontem, a procuradora da República Neide Mara Cavalcanti de Oliveira oficiou ao delegado e à promotora Monica Velasco, do Ministério Público Estadual, que atua com o delegado Dominguez na apuração desse caso, solicitando cópia de tudo o que já foi feito. O entendimento na Procuradoria da República é que, por se tratar de um crime cometido por militares do Exército, o caso é da alçada da Justiça Federal e não da Justiça do Estado do Rio. Caso o juízo estadual não entenda assim, poderá haver o chamado conflito de competência a ser decidido nos tribunais superiores.

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