Torre com 75 andares será nova atração de NY

Com projeto de Jean Nouvel, prédio de vidro ao lado do MoMA terá hotel, apartamentos e exposições

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Por Nicolai Ourossoff
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O prédio da Woolworth de Cass Gilbert, o da Chrysler de Willian Van Alen, o da Seagram de Mies van der Rohe. Se houve um tempo em que os nova-iorquinos viram seu horizonte como o da grande cidade do capitalismo, quem podia culpá-los? Tínhamos os melhores exemplos. Mas, nas últimas décadas, essa honraria foi parar em lugares como Cingapura e Dubai, enquanto Manhattan se conformou com o previsível. O que talvez esteja prestes a mudar. Uma torre de 75 andares, projetada pelo arquiteto Jean Nouvel para a área vizinha ao Museu de Arte Moderna (MoMA), em Midtown, promete ser o mais empolgante acréscimo à linha do horizonte numa geração. Seu exterior facetado, que se estreita para formar picos cristalinos, sugere uma preocupação com o celestial. E traz à mente o elogio de John Ruskin à irracionalidade da arquitetura gótica: "Ela não apenas ousou, mas também se deleitou em violar todos os princípios servis." Encomendada pela incorporadora Hines, a torre alojará um hotel, apartamentos de luxo e três andares a serem usados pelo MoMA como espaço de exposições. A junção dos mundos cultural e comercial é prova de como Nouvel sabe equilibrar forças urbanas conflitantes. À semelhança de outras obras arquitetônicas de Manhattan, a torre é o resultado de um negócio complexo. Embora o MoMA tenha concluído a expansão no valor de US$ 858 milhões há três anos, vendeu, no início de 2007, a área de Midtown para a Hines por US$ 125 milhões, etapa de um plano para crescer ainda mais. Ou ainda: 3.700 m² de espaço para suas galerias no novo prédio, que irá se conectar às outras galerias do segundo, quarto e quinto andares apenas do lado leste. Situada num terreno estreito, antes ocupado pelo City Athletic Club e por casas com fachada de pedra, a torre em construção está enraizada na mitologia de Nova York, sobretudo nas obras de Hugh Ferriss, arquiteto cujos projetos de perspectivas assombrosas, em uma Manhattan imaginária, ajudaram a definir sua imagem como a primeira metrópole do século 20. Mas, se os projetos de Ferriss eram expressionistas, as formas contorcidas de Nouvel são orientadas por uma lógica peculiar. Empurrando a moldura estrutural para o exterior, ele conseguiu criar grandes placas de piso abertas para as galerias do segundo, quarto e quinto andares do museu. O formato da torre, cortado em declive numa lateral, permite a visão para além da torre do museu. E, em relação ao canto nordeste, ele é recortado para atender às normas de zoneamento. Nouvel adota o padrão de vigas entrecruzadas na fachada do prédio, conferindo à superfície uma aparência retesada e muscular. Um sistema secundário de vãos que aloja o sistema de ventilação também valoriza a fachada. Nouvel ancora essas formas no solo de Manhattan. O restaurante e o lounge estão dispostos a um nível abaixo do chão, com a parte superior revestida de vidro de forma que os pedestres possam espiar as entranhas do prédio. Uma ponte no lobby liga as entradas das Ruas 53 e 54. Colunas de concreto entrecruzam os espaços, de formas inclinadas que fixam a estrutura profundamente no solo. À medida que se vai subindo no edifício, os andares encolhem de tamanho, acentuando uma sensação de estranhamento nos andares superiores. O apartamento do último andar é disposto ao redor do conjunto de elevadores, o que pode levar seus moradores a se sentirem de certa forma pressionados contra as paredes de vidro. As formas ousadas da construção são um comentário matreiro sobre as geometrias racionalistas do prédio de 1939, de Edward Durell Stone e Philip L. Goodwin para o Museu de Arte Moderna, e o anexo de Yoshio Taniguchi, de 2004. Para Nouvel, as formas de sua torre são uma grito pela liberdade. FRISSON E quanto ao MoMA? Para alguns, o surgimento de outra torre luxuosa estampada com o aval do museu causará frisson. Mas a questão imediata é como isso afetará a organização de suas vastas coleções de arte. Só agora o museu está se entendendo com os pontos fortes e fracos do anexo de Taniguchi. Muitos acham que a disposição das galerias que alojam a coleção permanente é confusa - e as do segundo andar para arte contemporânea são desajeitadas. O espaço extra de galerias é uma chance para o MoMA repensar a si mesmo. E aceitar a dica de Ruskin, que escreveu que a arte, seja expressa em "palavras, cores ou pedras, não diz a mesma coisa o tempo todo."

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