Traficantes do Rio compram droga das Farc, diz delegado

Constatação é de policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF no Rio, que têm feito prisões e colhido pistas, em investigações sobre o tráfico

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Traficantes de favelas cariocas estão adquirindo cocaína diretamente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na fronteira do Brasil com o país vizinho e, dessa forma, pulverizam a compra do "produto" e substituem alguns de seus grandes atacadistas, como Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. A constatação é de policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal no Rio, que têm feito prisões e colhido pistas, em diversas investigações sobre o tráfico internacional, que apontam para a negociação direta de bandidos locais com a guerrilha colombiana, relatou o titular da DRE, delegado Victor Cesar Santos. Segundo ele, Beira-Mar, que cumpre pena em Catanduvas (PR), ao ser preso teve enfraquecido o seu esquema, o que abriu espaço para novos compradores no atacado. "É uma tendência que já detectamos há algum tempo", disse ele. "Eles estão fazendo como o Beira-Mar, que era um traficante local e ia à Colômbia comprar droga, para não depender dos intermediários. Com isso, acabam pulverizando a compra da cocaína." Ex-guerrilheiro Uma das supostas conexões das Farc com traficantes das favelas cariocas - no caso, Mangueira e Jacarezinho, dominadas pelo Comando Vermelho - que iriam até a fronteira com a Colômbia para comprar cocaína foi revelada à PF por um suposto ex-guerrilheiro, o brasileiro Paulo Rafael dos Santos Júnior. Em depoimento à DRE, afirmou ter conversado com dois bandidos brasileiros, conhecidos como "Negro" e "Sapo", em uma festa em um povoado colombiano chamado San Felipe, no país vizinho. No depoimento, Santos Júnior diz que Negro, que seria ligado aos bandidos da Mangueira, e Sapo, do Jacarezinho, o abordaram porque souberam que também era brasileiro. Os dois traficantes teriam dito a Santos Júnior que foram a San Felipe comprar cocaína e afirmado que "o negócio agora é não trocar tiro com a polícia", de acordo com o termo de declarações da PF. Ainda de acordo com o depoimento, os dois criminosos do Rio pareciam conhecer os moradores e demonstravam ir à região com freqüência. Também teriam apresentado o depoente a dois comandantes da guerrilha, que pareciam conhecer bem. Santos Júnior também afirmou que um guerrilheiro lhe mostrou alguns sacos empilhados e disse que estavam cheios de cocaína a ser enviada ao Brasil - uma tonelada da droga. Ele afirmou ainda que os traficantes não têm acesso às bases das Farc propriamente ditas. Vendas As vendas de cocaína para os criminosos brasileiros aconteceriam em algum ponto da fronteira entre os dois países. Somente Beira-Mar teria conseguido quebrar essa norma, segundo o preso, por causa da sua importância para o tráfico e por ser muito procurado pelas autoridades do Brasil. O caso dos bandidos da Mangueira e do Jacarezinho não é isolado. "Já fizemos no Rio de Janeiro outras prisões que ligam traficantes locais às Farc", disse o delegado. O policial relatou outra prisão, de um sargento da Polícia Militar que identificou apenas como Luiz Carlos, quando levava um carregamento de projéteis para fuzil para o Complexo da Maré. Com ele, policiais federais apreenderam um agenda com o nome e o telefone do Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio, líder da Frente 16 das Farc. Era com ele que Beira-Mar negociava. O traficante brasileiro acabou preso na Colômbia.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.