Traficantes exterminam cachorros em favela

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Por Agencia Estado
Atualização:

Traficantes da favela Parque Royal, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, ordenaram que os moradores se livrem de todos os cachorros da favela, ou os animais serão mortos. Segundo eles, durante incursões policiais, os cães avançam sobre os criminosos que tentam usar os barracos para se esconder e alertam a PM de que há gente estranha na casa. Em dois dias, 35 cães foram mortos. Neste sexta-feira, a Polícia Militar ocupou a favela para garantir a vida dos bichos. Alguns cães passeavam pelas ruas da favela. O vira-latas Botafogo dormia tranqüilamente na sede da associação de moradores. De acordo com o tenente José Clayton Bispo da Silva, que comandou os 20 homens que vasculharam a favela, os cachorros morreram ao comerem veneno para ratos. A morte de um dos animais teve requintes de crueldade. Ele foi morto a pauladas. ?Não sei em que circunstâncias ocorreu essa morte, mas ele deve ter latido em hora errada?, disse o tenente. Segundo Clayton, a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) recolheu os animais mortos das ruas. A secretária municipal de Defesa dos Animais, Maria Lúcia Frota, que recebeu as denúncias, contou que o cão foi morto a pauladas porque a dona recusou-se a entregar o animal. ?A situação foi tão chocante, que ela desmaiou?, disse. Maria Lúcia classificou como ?trágica? a situação dos moradores de Parque Royal. ?A pessoa é violentada em todos os direitos básicos de cidadania e até no seu direito de amar um animal. É um precedente muito perigoso?. ?Não estamos aqui para brincar de salva-vidas de cachorrinho. Estamos aqui para garantir o direito de as pessoas terem uma vida normal, independente de morarem na favela, independente de ter traficante na esquina para avisar que a polícia está chegando?, disse um sargento. Houve quem abandonou seus cães na porta de instituições de defesa dos animais ou os entregou a parentes. ?Eu tive que dar o meu cachorro. O pessoal do movimento ocupa a minha laje quando a polícia chega e o Mosquito avançava neles?, disse uma moradora. Mosquito era um vira-latas pequeno, mas bravo. Foi dado a uma prima da moradora. ?Pelo menos minha filha pode vê-lo de vez em quando?. A catadora de latas Marilza Rita Silva, de 50 anos, que mora num barraco de seis metros quadrados com 19 cães, quatro deles filhotes, conseguiu manter seus animais. ?Eu não sei de ordem nenhuma. Meus bichos tão aí, vivos. Não chegou aos meus ouvidos essa história de matar cachorro, não?, garantiu. Uma vizinha, no entanto, disse que Marilza fez acordo com os traficantes de não soltar os cães. ?Têm pra mais de 60 cães aí e ela não solta nenhum. Eles ficam amontoados dentro de casa, fazendo as necessidades. Têm dias que ninguém agüenta a fedentina?, disse a moradora.

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