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Traficantes ordenam fechamento do comércio pela morte de Vado

Por Agencia Estado
Atualização:

Mesmo com a presença da Polícia Militar, comerciantes da Favela do Jacarezinho e do bairro do Cachambi, na zona norte, foram obrigados a fechar as portas hoje. Eles tiveram de obedecer a bandidos que impuseram luto pelo traficante Waldir Ferreira, o Vado, chefe do tráfico na comunidade, morto em confronto com a polícia ontem. Sem alunos, escolas também deixaram de funcionar. Cento e cinqüenta PMs ocuparam as principais vias de acesso ao Jacarezinho para evitar que os moradores fizessem manifestações por causa da morte de Vado, suspeito de ter ligações com o cantor Belo, e de Rodrigo Cláudio de Moraes Silva, conhecido como Macarrão, que também seria traficante local e foi morto durante o tiroteio. Alguns comerciantes chegaram a abrir as lojas, mas a maioria preferiu respeitar a ordem dos bandidos. Eles contaram que algumas pessoas percorreram a pé as ruas mandando que os estabelecimentos fechassem e só reabrissem às 18h. Homens num carro também fizeram ameaças. Foi a segunda vez em uma semana que traficantes forçaram o fechamento do comércio no Rio. Na segunda-feira, as lojas da Praça Saenz Peña, na Tijuca, zona norte, não puderam funcionar por ordem de bandidos do Morro do Salgueiro. O chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, rechaçou a hipótese de queima de arquivo para a morte de Vado. Segundo o delegado, o traficante valeria mais para a polícia se estivesse vivo. "Estávamos num bom momento para prendê-lo, mas houve uma operação policial e ele reagiu", disse Teixeira. Vado foi baleado por policiais durante operação no Jacarezinho. A operação tinha como objetivo localizar o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, acusado da morte do jornalista Tim Lopes. Elias estaria no Jacarezinho sob proteção da quadrilha de Vado, conforme denúncia recebida pela polícia. Ninguém foi preso. Zaqueu Teixeira disse que os seis moradores do Jacarezinho feridos durante a operação, entre eles uma menina de quatro anos, foram atingidos por estilhaços de granadas lançadas pelos criminosos e não por disparos feitos por policiais. Eles não correm risco de vida. Hoje, no Centro Educacional Fagundes Fernandes, que fica em Cachambi, a cerca de 800 metros da favela do Jacarezinho, as aulas foram suspensas porque não havia alunos. "Está tudo calmo, mas as crianças que moram na favela não vieram, com medo", disse a diretora da escola, que atende alunos de dois a onze anos, Glória Fagundes. Ela contou que, mesmo com a presença da polícia, preferiu fechar as portas. "Como só estou com dois alunos e não vai ter aula, fechei o portão antes de qualquer ordem e sei que outras escolas fizeram o mesmo". Na porta do colégio Célio Rodrigues, um cartaz avisava que o estabelecimento fora fechado por falta de segurança. Vado e Macarrão serão enterrados amanhã, às 10h, no cemitério São João Baptista, na zona sul. Os corpos estão sendo velados hoje à tarde. Vado era co-réu no processo contra Belo - acusado de tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de armas. Conversas entre o pagodeiro e o bandido gravadas pela polícia mostram intimidade entre os dois - Belo pergunta pelos filhos do traficante, manda lembranças para amigos em comum e demonstra intenção de visitar o Jacarezinho. Em outro trecho, o traficante pede R$ 11 mil para comprar "tecido fino". Em troca, Belo pede um tênis AR. Para a polícia os códigos se referem à cocaína e a um fuzil Ar-15, respectivamente. O promotor do caso, Alexandre Murilo Graça, disse hoje que a morte de Vado não muda o processo contra Belo - que já ficou preso 36 dias preventivamente. "Não altera em nada. Vado era co-réu. Vão pedir para eliminar sua pena porque ele morreu", afirmou. Belo não foi localizado para comentar o assunto e seus advogados não responderam às ligações da Agência Estado. O chefe de Polícia Civil disse que a Justiça é que vai avaliar se as provas são suficientes para condenar Belo.

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