Traficantes ordenam o fechamento do comércio em bairro do Rio

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Por Agencia Estado
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Pela segunda vez em dez dias, comerciantes da área da Praça Saenz Peña, na Tijuca, na zona norte da cidade, fecharam suas lojas em obediência a uma suposta ordem de traficantes. A maior parte do comércio de cinco ruas acatou a determinação que seria de bandidos do Morro do Salgueiro, revoltados com a morte, por policiais militares, de Ricardo Dias Lopes - segundo a PM, um traficante conhecido como Máscara, mas, de acordo com uma parente, um estudante sem ligação com bandidos. Na ocasião anterior, o "luto" foi imposto por causa da morte de Ricardo Victor dos Santos, o Cuco, do Morro da Formiga. Nem o reforço de 90 policiais foi suficiente para que os lojistas perdessem o medo e abrissem as portas das lojas para o público. O comandante do 6º BPM, coronel Murilo Lira, chegou a percorrer as ruas para pedir aos lojistas que retomassem suas atividades, mas até o fim da tarde a maioria das lojas, bancos, drogarias e creches permanecia fechada. "Um poder manda fechar, o outro poder manda abrir; a quem devemos obedecer ?", questionou um comerciante que não quis se identificar com medo de represália por parte dos bandidos. O medo era generalizado. "A polícia diz que garante nossa segurança hoje. Mas e amanhã?", perguntou a vendedora Renata Bellis, de 24 anos, que há cinco trabalha em uma loja de roupas infantis. Segundo ela, o prejuízo da loja pelo fechamento de um dia poderia chegar a R$ 1,2 mil. Entre as lojas fechadas, estavam uma lanchonete Bob?s, o Shopping 45, que tem 120 estabelecimentos, e uma agência do Banco Santander, entre outros. O coronel Murilo repetia que 120 policiais garantiriam a segurança dos comerciantes e afirmou que um efetivo de 30 a 40 homens permaneceria no local pelos próximos dias, mas quase ninguém demonstrou disposição de tomar a iniciativa de reabrir as lojas. "Só abro a minha loja se todos abrirem", diziam os comerciantes. O comandante do 6º BPM chegou a advertir a gerente de uma agência do Banco Real, que se recusava a atender à clientela, que reclamava na porta. "Responsabilizarei juridicamente a gerência do banco, que presta um serviço de utilidade pública", ameaçava o oficial. As informações sobre as ameaças eram desencontradas. Comerciantes afirmavam que, por volta das 8h, um grupo de cerca de 20 mulheres, armadas de paus, tamancos e pedras, percorreu as ruas, ameaçando depredar as lojas e levando o "recado" dos criminosos. O coronel Murilo, porém, sustentava a versão de que apenas duas mulheres teriam feito as ameaças. Um dos policiais que fazem a ronda na praça prendeu uma mulher grávida e um homem, acusados das ameaças. Os dois foram levados para a 19ª DP, onde foram autuados no artigo 179 do Código Penal (atentado contra a liberdade de trabalho) e liberados. Apenas a mulher, segundo a Polícia, admitiu participar do grupo, segundo o delegado-adjunto, João Ismar, que não quis revelar os nomes dos envolvidos. Versão No Boletim de Ocorrência Policial sobre a ação no Salgueiro que resultou na morte de Lopes, na madrugada de domingo, está registrado que 15 homens surgiram de dentro de um matagal no morro e surpreenderam os policiais, atirando. Com Máscara, segundo a Polícia, foi encontrada uma pistola Lugger 9 mm, de fabricação alemã, e um rádio comunicador. A PM ocupou o morro, onde apreendeu 1.500 sacolés de cocaína. Cristina Oliveira Vasconcelos, de 19 anos, que se disse prima de Lopes, negou que o rapaz fosse ligado ao tráfico de drogas. Segundo ela, a pistola encontrada com Ricardo foi "plantada" pela Polícia. "Meu primo era estudante e voltava do baile na hora do tiroteio", afirmou. Ela também negou a ordem para que o comércio fechasse as portas. "Qualquer pessoa pode dizer que é parente do presidente da República. E todo culpado se diz inocente", reagiu o comandante do 6º BPM.

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