Tráfico de órgãos: capitão Ivan diz estar ameaçado de morte

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Por Agencia Estado
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O capitão aposentado da Polícia Militar de Pernambuco, capitão Ivan Bonifácio da Silva, afirmou hoje, ao ser interrogado pela juíza federal Amanda Torres de Lucena, ter sido ameaçado de morte na prisão, por telefone e em código, ?se falasse demais?. Sua advogada, Maria Natal Evangelista Freire, disse que irá pedir garantias de vida para o seu cliente à justiça federal. Apontado como o líder da quadrilha de tráfico de órgãos no Brasil, ele disse ter recebido a ameaça de um israelense chamado Chuck, que falou com ele, de Israel, através do celular do seu filho, para quem ligou quando este o visitava. Segundo o capitão, Chuck seria o segundo homem na hierarquia da rede internacional de tráfico. O cabeça seria um outro israelense, Ilan, dono de uma agência de seguros em Israel, que liberaria os recursos das despesas para as cirurgias de retirada de rim a que se submeteram vários pernambucanos. Ontem, também em depoimento à Justiça Federal, o israelense Gedalya Tauber, um dos líderes da rede internacional, havia citado Ilan como funcionário do governo de Israel, que o teria contatado buscando vendedores de rins. De acordo com Gedalya, como os transplantes são proibidos em Israel por questões religiosas, o sistema público de saúde daquele país financia os pacientes que queiram se submeter a este tipo de tratamento em outro país. Assim, de acordo com ele, o governo israelense teria, indiretamente, financiado o tráfico. Estima-se que cerca de 30 pernambucanos teriam vendido um rim, submetendo-se a cirurgia de retirada em Durban, na África do Sul. Intimado a depor pela juíza Torres de Lucena, J.P.M.L., 25 anos, disse à imprensa que chegou a viajar, no dia 17 de novembro do ano passado, mas desistiu ao chegar lá, quando soube que teria de tirar uma costela para a retirada do rim e ao ver a cicatriz de um outro brasileiro que havia feito a operação. Ele estava desempregado e iria receber US$ 6 mil. Disse não ter sofrido nenhuma pressão para retirar o órgão e só voltou 12 dias depois porque não havia vaga nos vôos. Segundo ele, João Nascimento, que havia vendido o rim, o abordou e fez a proposta no bairro de Areias, zona oeste do Recife, onde mora. O funcionário público Alberty José da Silva, 38 anos, também iria ser interrogado hoje pela juíza. Ele vendeu um rim há cerca de quatro meses e foi acusado de ter se tornado depois um recrutador de pessoas dispostas a fazer o mesmo que ele. Alberty nega a acusação. Disse ter recebido US$ 6 mil, com os quais comprou um Palio ano 97 e pagou parte das dívidas. Casado, um filho, não se arrepende. ?Salvei uma vida?, afirmou, contando que uma norte-americana de aproximadamente 40 anos recebeu o seu rim. ?Ela estava há 16 anos sem urinar e agora tem uma vida normal?, afirmou, orgulhoso. Em uma carta, ele disse que ela o chamou de anjo da guarda porque ele havia ressuscitado uma vida. Dona de hotéis, ela o teria convidado para trabalhar para ela por um período de seis meses. ?Com esta confusão (a descoberta da rede de tráfico pela polícia federal), não deu?, lamentou ele. Alberty e J.P. não estão presos, mas integram a lista de 28 pessoas denunciadas pelo Ministério Público por envolvimento no caso. Gedalya e capitão Ivan estão presos desde 2 de dezembro, assim como outros 10 acusados de participação no esquema. Até ontem à tarde, a juíza havia ouvido cinco dos denunciados.

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