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Tráfico pagou até R$ 2 milhões a policiais

Relatório do MP revela extorsões de dinheiro cometidas por agentes do Denarc

Por Ricardo Brandt
Atualização:

O suposto esquema de extorsão a traficantes de Campinas, no interior de São Paulo, investigado pelo Ministério Público pode ter rendido mais de R$ 2 milhões, em menos de um ano, a agentes do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) suspeitos de corrupção. É o que revela o relatório entregue à Justiça, que levou para a cadeia, na última semana, nove policiais civis – quatro continuam foragidos.

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Nas mais de 400 páginas do documento, entregue pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), constam sequestros, tortura, ameaças de morte, invasões de domicílio e roubos (de dinheiro e drogas) supostamente cometidos pelos policiais para extorquir R$ 300 mil de um traficante de Campinas.

Sem saber que estava com o telefone celular (usado ilegalmente de dentro do presídio) grampeado, o sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, chefe do tráfico local, relata a um comparsa o prejuízo dos achaques ao traficante Agnaldo Aparecido da Silva Simão, o Codorna.

"Mão de Morsa (apelido usado por Andinho) diz que do final do ano para cá Mano Mais Novo (como ele chama o Codorna) já perdeu mais de R$ 2 milhões para os caras", registra transcrição de diálogo do dia 23 de abril.

Codorna, apontado como braço direito de Andinho no comando do tráfico na Favela São Fernando, acabou sequestrado, no dia 11 de abril, em casa. Segundo a investigação, os policiais levaram como reféns sua mulher, uma filha de 5 anos e a cunhada com a filha de 4 anos. Os agentes acusados atuavam na 3.ª Delegacia da Divisão Especial de Apoio, do Denarc, sob o comando do delegado Fábio do Amaral Alcântara, que também está preso temporariamente. O traficante e seus familiares foram soltos após o pagamento de um resgate de R$ 200 mil, que aconteceu no dia 12 de abril, em um posto de gasolina, na cidade de Valinhos. "Os policiais exigiram que eu arrumasse R$ 500 mil para libertar todo mundo", afirmou Codorna.

Segundo o relatório, depois de realizar flagrantes ilegais no bairro, torturar comparsas do traficante ao longo de fevereiro e março, "diversos policiais do Denarc iniciaram uma ação naquela região, quando conseguiram abordar e deter diversos integrantes da quadrilha de Andinho, além de familiares dos criminosos e também pessoas não relacionadas ao esquema".

 

Chácara

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"Os policiais nos levaram para o estacionamento do hipermercado Extra Abolição", relatou Codorna, em depoimento ao Gaeco. Depois, eles foram levados para uma chácara em uma cidade vizinha e mantidos até o dia seguinte. Depois de soltar a mulher e a filha do traficante, os agentes levaram Codorna para São Paulo. Eles rodaram pelas ruas da capital com o criminoso até que a quantia fosse paga.

Na invasão de sua casa, os policiais teriam roubado R$ 30 mil da gaveta do quarto do casal, declarou sua mulher, Eliane Cristina Souza, em depoimento. Ela reconheceu os policiais Silvio Cesar de Carvalho Videira, o Pequeno, Leonel Rodrigues Santos e Daniel Dreyer Bazzan (os três foragidos) como os responsáveis pelo sequestro.

"Pouco antes de me soltar, os policiais também disseram que no próximo ano voltariam. Aliás, esses policiais realmente vêm todo começo de ano extorquir dinheiro", disse Codorna, ao MP. Sua mulher disse que era a terceira vez que eles eram pegos por policiais do Denarc.

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