Transferência de presos era resolvida com propina

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Por Agencia Estado
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A superlotação nas celas das delegacias de São Paulo estava rendendo dinheiro no 101º Distrito Policial, no Jardim das Embuias, zona sul. Uma funcionária administrativa foi presa em flagrante nesta segunda-feira por cobrar propina para que presos fossem transferidos dali para cadeias públicas maiores. O diretor da Corregedoria da Polícia Civil, Roberto Maurício Genofre, mandou abrir inquérito para averiguar se algum policial participava do esquema. Segundo Genofre, Isabel Cristina Bento foi contratada pelo programa de frente de trabalho para trabalhar na delegacia por um ano. O prazo acabou em novembro, mas ela permaneceu trabalhando na delegacia "pelos bons serviços prestados". As pessoas contratadas pela frente de trabalho fazem faxina ou cuidam da copa da delegacia. Isabel trabalhava no cadastro de presos. Ao ser presa, ela confessou ter exigido propina. Segundo Genofre, ela estava "vendendo fumaça" para a mãe de um preso. É que ela estaria cobrando R$ 600,00 - a serem divididos em partes iguais com outro funcionário da frente de trabalho - para transferir um preso que já havia sido transferido da delegacia um dia antes. O outro acusado, Miguel Viana, não foi preso porque não foi achado no 101º DP. Ele será ouvido no inquérito. As 63 delegacias que abrigam presos na cidade têm cerca de 8 mil pessoas nas celas. O governo desativou as celas de 30 distritos e promete esvaziar as demais até 2004. Do outro lado da cidade, o furto de cinco armas do 90º DP, no Parque Novo Mundo, zona norte, também resultou em inquérito na corregedoria. A suspeita no caso é a ex-chefe dos escrivães da delegacia, Ângela Regina Arruda Santos. Ângela disse que em 2 de janeiro estava só na delegacia quando dois homens invadiram sua sala, trancaram-na no cofre do distrito, onde havia 70 armas como submetralhadoras, fuzis e escopetas, e levaram cinco revólveres de cima de sua mesa. Para o delegado Marcos Carneiro Lima, da corregedoria, é preciso esclarecer alguns pontos. Primeiro, no dia 2, Ângela mandou todos os funcionários almoçar ao mesmo tempo. Na bolsa, foram achados ofícios enviando à Justiça as armas furtadas. Eles tinham data anterior ao dia 2 e estavam rasgados. A perícia constatou ser possível trancar a porta do cofre por dentro - Ângela foi achada ali pelos colegas. A corregedoria apura a possibilidade de o furto ter sido feito por um filho da escrivã, que tinha antecedentes criminais. A mãe teria inventado tudo para acobertá-lo - o rapaz foi visto na delegacia pouco antes do dia 2 e foi morto dias depois.

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