Trapezista que perdeu o braço reconhece culpa

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Por Agencia Estado
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O trapezista Marcelo Magno da Silva, de 25 anos, se recupera da cirurgia a que foi submetido para amputação do braço direito. Na madrugada ontem, uma leoa do Circo Imperial, onde trabalha, devorou parte de seu antebraço. ?A culpa foi minha?, reconhece Silva. Depois de uma temporada em Quitandinha, a 70 quilômetros de Curitiba, o circo preparava-se para deixar a cidade e seguir para Agudos do Sul. Quarta-feira à noite, Silva foi com seu irmão Cristiano, de 26 anos, e o primo Ivan, 38, que também são artistas circenses, a um bar para assistir ao jogo da seleção brasileira contra o Paraguai. ?Bebi muitas cervejas?, afirmou Marcelo. Às 2 horas da madrugada, após retornar do bar, disse ter ido ajudar o tratador a dar alimento a duas leoas. A polícia ainda não ouviu o tratador para saber se ele estava junto. Próximo à jaula, foram encontradas três latas de cerveja e pedaços de mortadela. Imprudentemente, o rapaz passou a área de segurança das jaulas. ?Estava meio chumbado", disse. "Foi uma besteira." Segundo ele, enquanto jogava carne para a leoa mais velha por uma abertura maior que existe na jaula, não percebeu que a outra chegava por trás e agarrou seu braço direito, puxando-o para dentro da jaula. O animal mordeu o antebraço, próximo ao cotovelo. Ele começou a gritar, chamando a atenção de seu irmão e do primo, que vinham atrás. Com um ferro, eles bateram na cabeça da leoa que, somente então, abriu as mandíbulas. "Não senti dor, apenas vi o braço estraçalhado", disse. Em razão de a grade ser estreita, o proprietário do circo, Luiz Carlos Pimentel, precisou serrá-la para liberar o que restou do braço. No Hospital do Trabalhador, em Curitiba, onde se recupera, os médicos decidiram amputar o braço, para evitar infecções. Silva é também o palhaço Catatau. "Estou vivo e vou continuar no circo como palhaço", afirmou. Mas não esconde de ninguém que prefere o trapézio. Ele nasceu de família circense, em Taubaté (SP). O pai, Itoriel, era trapezista, e a mãe, Maridalva, bailarina. O tio José teve o mesmo problema que ele sofre agora, antes mesmo de Marcelo ter nascido. Um leão acabou com um dos seus braços. O trapézio entrou em sua vida quando tinha 7 anos. Depois disso, ele passou por vários circos e, havia seis meses, estava no Imperial. Pulando de cidade em cidade, conseguiu estudar apenas até a 4ª série. "O mundo foi quem mais me ensinou", conforma-se. Outros dois irmãos, por parte de mãe, moram em Taubaté e estudam. Um deles quase se formando em Direito. "Eu nasci para isso", afirmou. "Se sair do circo, não sei o que fazer." No trapézio, no qual não usava redes de proteção, teve alguns acidentes, mas sem sofrer ferimentos graves. Solteiro, ele pensa em casar e ter um filho, sonhando que ele siga sua profissão. Apesar de receber apenas R$ 40,00 por semana, além da alimentação, pouso e roupas. Mas, a partir de agora, quer distância dos leões. "Não quero mais ver na minha frente", decreta. Na próxima semana, quando sair do hospital, espera juntar-se à caravana do circo, que ontem hoje para Agudos do Sul.

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