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Tremor foi pequeno para causar tsunami

Esse tipo de fenômeno responde por só 10% dos abalos globais

Por Herton Escobar e Rodrigo Pereira
Atualização:

O terremoto registrado ontem ocorreu em uma região incomum, longe das zonas de contato entre placas tectônicas onde costuma ocorrer esse tipo de abalo. O epicentro, a 215 quilômetros de São Vicente, no litoral paulista, foi bem no meio da Placa Sul-Americana. Esse tipo de tremor, chamado "intraplaca", responde por apenas 10% dos abalos sísmicos globais. O local surpreendeu o geofísico Rafael Abreu, do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Segundo ele, pelos registros do USGS, nunca houve um terremoto num raio de 500 quilômetros daquele ponto - pelo menos desde 1973, quando o serviço americano começou a catalogar esse tipo de evento. "Quando vi o registro não acreditei", disse Abreu ao Estado, em entrevista por telefone do Centro Nacional de Informações sobre Terremotos do USGS, no Colorado. "Pensei: Será que isso está certo?" Abreu, que é porto-riquenho, disse que o terremoto, considerado de nível moderado, foi pequeno demais para causar um tsunami. Para isso, precisaria chegar a pelo menos 6 ou 7 na escala Richter, e seria necessário um deslocamento vertical de placas do substrato marinho - o que não aconteceu. "Se fosse até o fundo do mar e olhasse, não veria nenhuma cicatriz", disse o especialista Lucas Vieira de Barros, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB). Até a 0 hora de hoje, o USGS havia recebido relatos online de pessoas que sentiram o abalo em pelos menos 25 cidades de São Paulo, Rio e Paraná. A lista incluía a capital dos três Estados e até municípios distantes do interior paulista, como São Carlos, a quase 500 km do epicentro. Segundo Barros, um tremor dessa magnitude (5,2 graus na escala Richter) pode ser sentido a até 800 km de distância. Ele explica que o catálogo global do USGS é diferente do catálogo regional, e que a UnB tem registro de tremores menores já ocorridos naquela área. Um abalo de 3.9 na escala Richter no mesmo hipocentro do tremor de terra percebido ontem em São Paulo foi registrado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) no dia 8 de fevereiro. O hipocentro é ponto em que começa a fratura nas placas tectônicas. Segundo o técnico em sismologia da IAG-USP, José Roberto Barbosa, a repetição do fenômeno em uma mesma região é muito raro e pode ser interpretado como a liberação de uma tensão acumulada resultante da movimentação de placas tectônicas. "Pode ser que na região esteja acontecendo uma pequena atividade sísmica. A movimentação das placas tectônica forma fraturas e fissuras, alguns centímetros por ano e a tensão acumulada é liberada em forma de tremores. Às vezes vários tremores de pequenas proporções, em geral imperceptíveis, outras vezes com um grande abalo. Mas é muito difícil acontecer dois sismos no mesmo lugar, e nesse caso aconteceu", explicou o técnico. Barbosa disse que outros sismos ainda podem ocorrer no mesmo local, mas não há como prever isso. FRASE José Roberto Barbosa, Técnico em sismologia do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP "É muito difícil acontecer dois sismos no mesmo lugar, e nesse caso aconteceu"

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