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Três prováveis causas para a onda de ataques no Rio

Autoridades não sabem se ataques são retaliação a milícias ou a regime rigoroso

Por Agencia Estado
Atualização:

Os motivos que causaram a onda de violência que atingiu o Rio de Janeiro desde a madrugada da última quinta-feira ainda não foram esclarecidos. Autoridades divergiram sobre as causas dos atentados e não é possível dizer se os ataques representam uma reação a milícias de policiais que passaram a dominar as favelas, um descontentamento dos presidiários com um eventual endurecimento do regime penitenciário ou uma tentativa de intimidar o governador eleito do Estado, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que assume o cargo na próxima segunda-feira. Rigor nos presídios - O secretário de Segurança Pública do Estado, Roberto Precioso Júnior, atribuiu nesta quinta-feira os ataques a uma suposta insatisfação de presidiários com a troca de governo. Para ele, o sistema penitenciário atual está ?acomodado? e os presos temem um possível endurecimento. Precioso acredita também que as facções Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando uniram-se para promover os ataques. De acordo com ele, é alarmante o processo de aproximação de facções, novidade no Rio. Até agora, especialistas apontavam inexistência no Rio de ações semelhantes às do PCC devido à disputa entre bandidos. Reação às milícias - O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, reagiu às declarações de Precioso. "Não tem nada a ver com mudança de governo. Esses atos estão sendo desenhados há mais de dois meses. O serviço de inteligência da União, do Estado e até o município já sabiam. A governadora também sabia. Todos sabiam da possibilidade de união de facções em razão das milícias?, disse Astério, referindo-se a organizações de policiais, bombeiros, agentes penitenciários e seguranças que têm expulsado traficantes e já controlam 92 favelas, sobretudo na zona oeste. O secretário disse ter recebido um relatório da inteligência alertando para os ataques. A ordem teria saído de penitenciárias. De acordo com ele, o relatório mencionaria escutas indicando que o traficante Jorge Ferreira, o Gim, que atua na Cidade de Deus, na zona oeste, se reunira com comparsas da Mangueira, na zona norte. As duas favelas são dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Responsável pela prisão de alguns dos mais procurados traficantes do Rio, a inspetora Marina Maggessi, deputada federal eleita (PPS), afirmou nesta quinta-feira que a motivação para os ataques de traficantes do Comando Vermelho (CV) foi meramente comercial. ?Não há conotação política", disse ela. "As milícias atrapalharam os negócios deles e, por isso, reagiram?. Motivos políticos - Especialistas em segurança pública acreditam ainda que há uma conotação política nos ataques que deixaram 18 mortos e 24 feridos no Rio. Eles foram unânimes em apontar o episódio como um alerta para o novo governo. "É claro que querem mandar um recado para o próximo governo", disse a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. "Eles vão partir para o ataque se forem incomodados". Ela só estranhou o fato de os autores dos ataques terem espalhado um bilhete em que afirmam que estão reagindo com um ?Rio de sangue? à tolerância do governo de Rosinha para com as milícias que atuam em favelas. ?O próximo secretário de segurança, o delegado de Polícia Federal José Mariano Beltrame, deixou claro que teria como prioridade o combate às milícias. É estranho eles não terem esperado para ver o que aconteceria?, afirmou a pesquisadora. O antropólogo Gilberto Velho concorda que há um componente político nos ataques, mas chama a atenção para o crescente desenvolvimento de uma cultura de violência. "Eles não querem levar a vida de pobres passivos e ignorantes que tiveram seus pais, avós e bisavós e afirmam sua identidade pelo ataque de propriedades e de um profundo desprezo pela vida humana", disse.

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