Tripulantes estavam bêbados na hora do acidentes, dizem sobreviventes

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Por Agencia Estado
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O barco D. Luiz XV, com capacidade para transportar 140 passageiros, naufragou no Rio Pará, em Barcarena, na madrugada desta quarta-feira, quando viajava de Manaus (AM) para Belém (PA) com mais de 300 pessoas a bordo. Cinco mortos haviam sido resgatados até o final da tarde desta quarta-feira por homens do Corpo de Bombeiros Militar e da Defesa Civil, enquanto outras 106 pessoas ainda estavam desaparecidas. Os mergulhadores acreditam que mais corpos devam ser encontrados nas próximas horas. A polícia de Barcarena abriu inquérito para apurar as causas do acidente e nesta quarta-feira mesmo começou a ouvir alguns sobreviventes, que acusaram o gerente do barco, conhecido por Paulo e sua tripulação, além da falta de fiscalização da Capitania dos Portos, como responsáveis pela tragédia. Os passageiros afirmam que todos os tripulantes estavam embriagados no momento do naufrágio e ignoraram as advertências de outros barqueiros da região para não atravessar a baía do Rio Pará com o barco superlotado de pessoas e carga. "Nunca mais vou esquecer aquele inferno. As pessoas que não tinham salva-vidas gritavam por socorro. Vi crianças serem tragadas pelas águas quando o barco começou a afundar", narrou o passageiro Antonio Pereira. Ele escapou porque conseguiu nadar até a praia do Cururu, onde pela manhã encontrou outros nove sobreviventes, inclusive duas crianças, salvas pelos pais. Um bebê de um ano foi salvo da morte por um homem que conseguiu nadar até a praia. A cena da criança viva nos braços do mergulhador do Corpo de Bombeiros comoveu parentes de passageiros que aguardavam aflitos notícias sobre pessoas resgatadas nas praias da região. O barco saiu de Manaus (AM) no último dia 11 com destino a Santarém (PA), onde os passageiros deveriam descer para pegar um barco maior, que conduziria a todos até a cidade de Belém, onde a maioria possui parentes, para passar as festas de Natal e ano-novo. Mas, em vez de mudar de barco, o comandante do D. Luiz XV, que pouco conhecia a rota até Belém, resolveu prosseguir a viagem, o que deixou irritados e apreensivos os passageiros. Com sua lotação esgotada, o barco ainda apanhou mais de 30 passageiros em Santarém. Nos portos de Monte Alegre, Oriximiná e Gurupá, pelos menos mais 70 pessoas subiram na embarcação. Em Monte Alegre, a tripulação arrumou espaço para 600 quilos de milho. "As pessoas começaram a reclamar do excesso de gente no barco, mas o Paulo nem ligava", afirma Maurino Pinheiro. Ele relata que, por falta de rede e de espaço, muitas pessoas dormiam no chão durante a viagem. Pinheiro disse que, antevendo a tragédia, saltou do barco na localidade de Ponta Negra. Logo depois de seguir viagem rumo a Belém, a embarcação afundaria ao atravessar a Baía do Marajó, no Rio Pará. "Os responsáveis por esse crime devem pagar pelas mortes que provocaram e terminar seus dias na cadeia. Se muita gente escapou, principalmente as crianças, foi por milagre de Deus", acrescenta o sobrevivente Luiz Campos Melo. Chorando muito, Melo disse que pelo menos seis pessoas de sua família ainda estavam desaparecidas. "Não localizei meus quatro irmãos. Torço para que eles tenham nadado até alguma praia e conseguido se salvar." O Corpo de Bombeiros Militar e a Capitania dos Portos informaram que as buscas continuam na região do naufrágio, apesar da forte correnteza. O capitão dos Portos no Pará, Jaerte Bazyl, reconheceu as deficiências da fiscalização, mas disse que em muitos portos não existem postos de vigilância e pessoal para fazer o controle de passageiros que entram e saem dos barcos. "Em Santarém, esse barco foi fiscalizado pela Capitania e não havia excesso de passageiros", garantiu Bazyl, que determinou a abertura de inquérito administrativo para apurar a responsabilidade do dono do barco no naufrágio.

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