Tropas descumprem ordem de juiz

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Por Bruno Tavares
Atualização:

Apesar das restrições determinadas pela presidência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio e Espírito Santo), o Exército manteve ontem seus homens posicionados em pelo menos outros dois pontos do Morro da Providência, além do trecho de 100 metros onde ocorrem as obras do Projeto Cimento Social - parceria entre os ministérios da Defesa e das Cidades para a recuperação de moradias populares. O único local desocupado pelas tropas, ainda na noite de sexta-feira, foi a Praça Américo Brum, onde há oito dias três jovens foram detidos por militares e entregues a traficantes de um morro rival. Revoltados com a permanência do Exército, proprietários das casas em reforma já ameaçam paralisar as obras. "Os moradores estão com medo. Se eles (os militares) não saírem do morro imediatamente, como mandou a Justiça, não vai ter obra", disse Nelson Gomes, um dos líderes comunitários da Providência. Ele também acusa as tropas de continuarem abordando moradores. O Estado esteve no morro e, até a tarde de ontem, ao menos 50 homens armados de fuzis, pistolas e espingardas se concentravam em três áreas: na capela do Cruzeiro, o ponto mais alto do morro; no Buraco, trecho de altura intermediária, com vista para a obra; e nas proximidades da Rua Barão da Gamboa, onde as moradias estão sendo reformadas por militares e funcionários de uma empreiteira. Entretanto, a ordem do desembargador Joaquim Antônio de Castro Aguiar, presidente do TRF2, limitava a atuação dos militares exclusivamente à obra. O despacho também vetava a participação deles nas ações típicas de segurança pública, como patrulhamentos e abordagens, pelo menos até a próxima quinta-feira, quando o governo federal terá de apresentar uma solução definitiva para a impasse. Por ordem do comando do Exército, ontem mesmo as abordagens foram reduzidas a zero. Os soldados estão orientados a agir somente em caso de atitude ofensiva à tropa. Segundo fontes militares, o efetivo foi reduzido de 200 para menos de 150 homens. A alegação extra-oficial para a permanência da tropa fora do trecho estipulado pela Justiça Federal é a de que a reforma das casas localizadas na encosta do morro começará em breve. Mas o fato é que o comando está preocupado com a segurança do efetivo e teme ser alvo fácil de traficantes se abandonar os pontos altos, considerados estratégicos. A questão é tão crítica que o Exército cogita até abandonar o trabalho, caso as exigências da Justiça interfiram no que chamam de "limite mínimo de segurança". O Comando Militar do Leste não se pronunciou. Na manhã de ontem, parentes e amigos dos jovens assassinados participaram da missa de 7º dia na Igreja Santa Rita de Cássia.

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