SÃO PAULO - Quinta-feira à noite no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Desembarque internacional lotado, gente com plaquinha, pessoas com flores, carregadores, motoristas, avós e netos. Atrás de dois carrinhos e seis malas, estão Sheila Maria Teixeira de Lima e a filha, Mariana.
O marido achou estranho: elas viajaram com uma bagagem só. Depois de 21 dias de passeio entre Nova York e Washington, passando por Baltimore e Filadélfia, Sheila confessa que comprou. "Minha filha, eu comprei. Fiquei doida. Era tudo lindo, tudo barato. Trouxe massa de panqueca, sabão em pó, tênis e produto de limpeza. É muito cheiroso", conta Sheila.
Aos 48 anos, professora da rede municipal, Sheila foi para os Estados Unidos pela primeira vez para visitar a irmã, que mora lá há 14 anos. E já avisou ao marido: vai voltar mais vezes. "Ela está radiante, me ligava de lá e só falava de compras e de como as lojas eram baratas", conta Silvio Lima, o marido.
Não à toa pesquisas recentes sobre gastos no exterior mostraram que o brasileiro é pródigo em gastar no exterior. Nos Estados Unidos, entra no topo do ranking do que mais deixa dinheiro, seja em parques, shoppings ou outlets: são US$ 5,5 mil por pessoa em uma única viagem, quase R$ 10 mil. E a conta inclui apenas gastos "supérfluos": não entram aí hotel e passagem aérea, geralmente pagos com antecedência no Brasil.
Excesso. A gastança é vantajosa para o comércio lá fora e até para as companhias aéreas, que não só levam e trazem o passageiro como lucram com excesso de bagagem. A Gol não revela os números, mas afirma que a receita com bagagem extra vem crescendo consideravelmente, sobretudo nos voos vindos de Buenos Aires, o destino internacional mais forte da companhia.
A TAM diz que o passageiro que vai para Miami volta com pelo menos dez quilos de bagagem a mais do que levou e, às vezes, excede o limite. A empresa registrou ainda um recorde histórico na taxa de ocupação das rotas internacionais: 81,4% O tipo de passageiro "em moda" na companhia são as grávidas que passam a semana em Miami comprando enxoval.
Ginástica. Mãe de dois filhos, a carioca Christina Queiroz Leite, de 53 anos, não fez enxoval. Mas, dos quase R$ 10 mil que levou para gastar em 20 dias de viagem pela Flórida, menos de R$ 2 mil voltaram com ela para o Rio. Na bagagem, roupa de ginástica, bolsa esportiva, quatro pares de tênis e muitas meias para usar no dia a dia do trabalho - Christina é professora de Educação Física.
"Nem acho que comprei demais, tive controle. É fácil sair comprando tudo, as coisas são baratas demais quando comparamos com o Brasil", conta. "Por isso brasileiro faz até vergonha do tanto que compra lá. Levam malas de carrinho para comprar nos outlets."