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UFMA apura denúncia de racismo na instituição

Em petição pública, alunos denunciam o professor de Cálculo Vetorial por humilhar na frente de todos um colega africano da turma; dentre os insultos, o docente sugeriu ao discente que 'voltasse à África'

Por Ricardo Valota
Atualização:

SÃO PAULO - A administração da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) solicitou abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar denúncias, partidas de estudantes do curso de Engenharia Química, sobre atitudes supostamente racistas do professor José Cloves Verde Saraiva contra o africano Nuhu Ayuba, inscrito na disciplina Cálculo Vetorial.Uma cópia da denúncia foi entregue ao Ministério Público Federal.

 

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Na petição pública feita pelos alunos, eles afirmam: "Informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba humilhando-o na frente de todos os alunos.

 

Na entrega da primeira nota o professor não anunciou a de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que 'tirou uma péssima nota'. Por mais de uma vez o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria 'voltar à África' e que deveria 'clarear a sua cor'.

 

Em um outro trabalho de sala o professor não corrigiu se limitando a rasurar com a inscrição 'Está tudo errado' e ainda faz chacota com a pronúncia do nome do colega relacionando com o palavrão 'No c.'; disse que o colega é péssimo aluno por que 'somos de mundos diferentes' e que 'aqui, diferente da África, somos civilizados' inclusive perguntando 'Com quantas onças já brigou na África?'.

 

Nuhu não retruca nenhuma das agressões e está psicologicamente abalado, motivo pelo qual solicitamos que esta instituição tome as providências que a lei requer para o caso".

 

O reitor Natalino Salgado afirmou que "é lamentável a ocorrência de fatos dessa natureza em qualquer instância pedagógica, ainda mais em uma universidade pública, como a UFMA", e que, segundo ele, "vivencia dias de grandes conquistas no processo de inclusão social e de acordos internacionais que favorecem a mobilidade estudantil, assim como a docente". "Temos pautado nosso trabalho no respeito e na dignidade humana; e não partilharemos de atitudes que se caracterizem em retrocesso e vergonha para a nossa sociedade.

 

Os estrangeiros, assim como todos os outros estudantes, têm o nosso apreço e respeito. Vamos continuar honrando os acordos educacionais e culturais assumidos pela Universidade e pelo Governo Brasileiro com outros países", disse.

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Segundo ainda nota divulgada pela reitoria, "a UFMA disponibiliza anualmente duas vagas de cada curso, no período diurno, para o PEC-G, Programa de Estudantes-Convênio de Graduação, que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.

 

Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas - federais e estaduais - e particulares, o PEC-G seleciona estrangeiros, entre 18 e 25 anos, com ensino médio completo, para realizar estudos de graduação no país".

 

Em retratação pública em relação à interpretação do ocorrido pelos alunos, o professor pediu desculpas. Sobre as denúncias, Cloves afirma que houve um mal entendido, sobre o qual pede desculpas ao estudante Nuhu Ayuba e aos colegas de classe.

 

"Jamais tive intenção discriminatória, de qualquer espécie, mesmo porque sou, como muitos brasileiros, descendente de africanos, inclusive a minha avó era de Alcântara/MA. Acredito no potencial de todos, e o que exijo como docente é que os estudantes tenham compromisso com o conteúdo da disciplina e com a participação e frequência às aulas", destacou Saraiva.

 

José Cloves Verde Saraiva, 57, é Professor Associado III, do Departamento de Matemática da UFMA desde março de 1980, após ser aprovado por Concurso Público. Nascido na capital maranhense, Saraiva é Doutor em Matemática pela Universidade de São Paulo.

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