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Um apoio para a religião que salva

Governo vai capacitar 5 mil líderes

Por Fernanda Aranda
Atualização:

As portas dos serviços públicos nem sempre estão abertas para recebê-los. As clínicas particulares exigem mensalidades que os bolsos não podem pagar. Não há saída para a dependência química que já afastou amigos, famílias e destruiu casamentos. É aí que os grupos religiosos - independentemente do credo - estendem a mão que eles não encontram em outro local. Sabendo da proximidade entre fé e recuperação do vício, e de forma pioneira, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), ligada à Presidência da República, vai capacitar 5 mil padres, pastores, monges budistas e outros religiosos para lidar com o problema das drogas. O curso, chamado de Fé na Prevenção, é gratuito, começa em agosto e terá duração de dois meses e certificado emitido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Até 2011, a meta é treinar 20 mil líderes. "Além de católicos e evangélicos de diferentes denominações, estão participando lideranças espíritas, judaicas, de religiões de origem africana, religiões orientais e uma série de movimentos afins que se dedicam ao tema drogas", contou a secretária adjunta da Senad, Paulínia Duarte. Será um auxílio para as iniciativas já espalhadas nas igrejinhas de bairro que, juntando cada centavo doado pela sociedade, conseguem oferecer abrigo aos dependentes. "Todo mundo quer ajudar velhos e crianças. Mas na hora que falamos de um homem dependente químico, é mais difícil", afirma o padre José Carlos Spínola, da Paróquia São João Maria Vianney, que há 13 anos mantém o Projeto Reciclázaro. Lá ele recebe meninos de rua, mulheres de portadores do vírus HIV, idosos vítimas de violência e dependentes de álcool e drogas. Sobre os últimos, padre Zé Carlos cansou de ouvir "não dou dinheiro para vagabundo". Ainda assim, não desistiu de oferecer ajuda de graça a eles, "que chegam cada dia mais novos", lamenta.Outra iniciativa é a Fazenda Esperança, em Guaratinguetá, unidade que recebeu a visita do papa Bento XVI em 2007. Hoje, são 60 unidades espalhadas pelo mundo. "A espiritualidade mexe com o censo ético do dependente, resgata o amor próprio e ocupa um vazio antes dominado pela droga", diz o padre Márcio Roberto Geira, que é responsável local pela clínica gratuita. "As igrejas, em especial a católica e a evangélica, estão mais disponíveis para oferecer essa ajuda sem o interesse econômico por trás disso." Para as 5 mil vagas da primeira turma de capacitação, foram 7,6 mil candidatos. Segundo padre Geira, a explicação para o fato de muitos líderes religiosos estarem envolvidos em iniciativas com dependentes é que a missão da religião é "responder a uma necessidade de sua época". "Assim como antes o que mais apareciam eram crianças de rua, hoje o principal problema são os jovens dependentes." Até a ciência produziu ensaios que afirmam a influência positiva da espiritualidade na recuperação. Na clínica da Uniad, em São Bernardo, a primeira pública mantida pelo governo do Estado e pela Unifesp, orar, rezar e meditar já são verbos que intercalam a medicação. Duas vezes por semana, líderes de várias religiões visitam os dependentes.

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