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Um dia antes de desabamento no Ceará, Crea foi notificado de que prédio passaria por obras

Na segunda, foi registrada uma Anotação de Responsabilidade Técnica, referente à recuperação de construção e pintura do edifício; não foram divulgados mais detalhes sobre o documento. Prédio em Fortaleza tinha mais de 40 anos

Foto do author Renata Okumura
Por Renata Okumura
Atualização:

SÃO PAULO - O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE), Emanuel Mota, afirma que a entidade foi notificada na segunda-feira, 14 - um dia antes do desabamento - sobre obras de manutenção pelas quais passaria o prédio residencial de sete andares que desabou, em Fortaleza, e deixou nove feridos na manhã desta terça-feira, 15.

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Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, Mota afirma que um engenheiro registrou uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) junto ao conselho indicando "recuperação de construção e pintura do edifício". O documento identifica o responsável técnico por obras a serem feitas, como foi o caso do edifício em Fortaleza.

"(Ontem) foi feito um registro de obras, mas não há detalhes sobre o tipo de serviço a ser realizado. (O documento) apenas cita recuperação de construção e pintura do edifício. O profissional assumiu toda a responsabilidade, porque a declaração foi feita de forma genérica e ampla", afirmou Mota, sem divulgar a identidade do engenheiro responsável.

O prédio que desabou se localiza na esquina da Rua Tibúrcio Cavalcante com a Rua Tomás Acioli, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza Foto: Google Street View

Desta forma, não está descartada a possibilidade de obras estarem acontecendo no prédio. O conselho abrirá um processo para verificar a conduta do profissional responsável. A entidade vai solicitar que ele vá ao Crea-CE. O engenheiro pode ter o registro profissional suspenso e pode ainda vir a responder criminalmente pela tragédia.

Recentemente também foi registrada uma ART de manutenção nos elevadores do edifício. Mas não há mais detalhes sobre o documento.

Mota afirma ainda que o prédio que desabou tinha mais de 40 anos e, por isso, não há registro inicial de construção, pois na época isso não era obrigatório. Uma equipe do Crea-CE foi ao local e realizou uma avaliação inicial do desabamento. Para Mota, ainda é cedo para apontar a causa do desabamento.

"Estive no local e observei que há um grave desgaste da estrutura predial. Fortaleza tem atmosfera agressiva, por causa do mar, o que agrava o potencial de risco das edificações. Sobre explosão de gás, ainda não tive conhecimento. Não dá para detectar ainda", disse o presidente do Crea-CE.

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Segundo ele, a perícia irá identificar o responsável pela tragédia. "É preciso aguardar porque ela irá apontar uma série de causas".

O Crea-CE vai encaminhar os dados do prédio às autoridades responsáveis.

O presidente do conselho classifica o desabamento como "tragédia anunciada". "A cidade de Fortaleza está envelhecendo. Foi um tragédia anunciada. Tivemos outros desabamentos. A Prefeitura de Fortaleza deve fiscalizar os prédios antigos e cobrar a efetivação da lei de inspeção predial. Não podemos esperar por mais mortes", disse.

Mota acrescenta que síndicos e também moradores devem ser conscientizados sobre a importância das obras preventivas. "Necessidade de ficar atento às construções e também manutenções. Além de contratar profissionais para construir, é preciso fazer planos de manutenção que são peças fundamentais para diagnosticar a necessidade de obras".

A reportagem aguarda posicionamento da Prefeitura de Fortaleza sobre as declarações do Crea-CE. 

Nas redes sociais, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), lamentou a tragédia e reforçou os trabalhos em busca de vítimas com vida.

"Equipes da Prefeitura e do Governo do Estado, como Defesa Civil, SAMU, AMC, Guarda Municipal, Hospitais Públicos, Corpo de Bombeiros e Polícias Militar e Civil já estão em uma operação conjunta", reforçou a nota.

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Pela manhã, o Corpo de Bombeiros havia informado uma morte na tragédia, mas no início da noite, o governo do Ceará afirmou que ainda não havia confirmação de óbitos. Não foi explicado o motivo do desencontro de informações. 

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