PUBLICIDADE

Um prêmio para o devoto Zumthor

Discreto e pouco badalado, suíço que vive nos Alpes é reconhecido com o Pritzker pela minúcia de suas obras

Por Robin Pogrebin
Atualização:

Ele não é um arquiteto procurado pelas celebridades, não figura nas listas de candidatos a receber encomendas de projetos de museus e salões de concerto e nem é conhecido fora dos círculos da arquitetura. Ele não desenhou muitos edifícios. Seu projeto mais conhecido é o das termas de um spa numa comunidade dos Alpes. E ele tem trabalhado em relativa obscuridade nos últimos 30 anos numa vila remota nas montanhas suíças. Mas ontem o arquiteto suíço Peter Zumthor foi declarado vencedor do Prêmio Pritzker de 2009, o maior da arquitetura. "Ele desenvolveu o método da sua prática quase tão meticulosamente quanto cada um dos seus projetos", diz o texto elaborado pelos nove jurados do Pritzker. "Ele projeta edifícios de notável integridade - intocados pela moda e pelas manias passageiras. Recusando a maioria dos projetos que lhe são encaminhados, ele somente os aceita quando sente uma profunda afinidade com o seu programa, e a partir do momento do seu compromisso, sua devoção é total, supervisionando cada detalhe da realização." Para Zumthor, de 65 anos, receber o Pritzker - prêmio considerado dentro da arquitetura como o equivalente ao prêmio Nobel (ou mesmo o Oscar) e oferecido todos os anos a um arquiteto vivo - é uma espécie de justificação. "Você pode trabalhar nos seus projetos, fazer as coisas à sua maneira e ser reconhecido", disse ele em entrevista concedida pelo telefone de Haldenstein, a vila suíça onde ele vive. Zumthor é o 33º a receber o prêmio - uma bonificação de US$ 100 mil e um medalhão de bronze entregues a cada ano num local diferente, de importância arquitetônica. A cerimônia deste ano será realizada em Buenos Aires, no dia 29 de maio. O projeto associado com maior frequência a Zumthor é o spa concluído por ele em 1996 para o Hotel Therme em Vals, uma vila nos alpes suíços. Por meio da utilização de placas de quartzito, que evocam uma pilha de tijolos romanos, Zumthor criou uma interpretação contemporânea para os banhos da antiguidade. Também é conhecido pelo seu uso da madeira, como na Capela de São Benedito em Sumvitg, na Suíça. O júri do Prêmio Pritzker elogiou o emprego dos materiais feito por Zumthor. "Nas suas mãos, habilidosas como as de um artesão consumado, Zumthor transforma materiais como telhas de cedro e vidro polido de maneira a celebrar suas próprias qualidades individuais, tudo a serviço de uma arquitetura da permanência", disseram os jurados. Zumthor disse que seus projetos costuma ter origem nos materiais. "Trabalho um pouco à maneira de um escultor", disse. "Quando começo, minha primeira ideia para um edifício parte do material. Acredito que esta seja a essência da arquitetura. Não se trata de papel, nem das formas. Trata-se de espaços e materiais." Os edifícios de Zumthor vão dos altos e circulares até os quadrados e de pé direito mais baixo. Para erguer a capela rural para a Igreja de St. Nikolaus von der Flue, concluída em 2007, em Mechernich (Alemanha), Zumthor construiu o interior com 112 troncos de árvores armados feito uma tenda. Por 24 dias, camadas de concreto foram depositadas ao redor da estrutura. Então, os troncos foram mantidos em chamas durante três semanas no interior da estrutura, de modo que, secos, pudessem ser facilmente removidos da casca de concreto. O chão foi coberto com chumbo, derretido e espalhado manualmente sobre o assoalho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.