Uma coleção de voos cancelados e encontros que não ocorreram

Viagens internacionais, seja a trabalho ou por questões pessoais, ficaram distantes dos brasileiros em 2020

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Por Edison Veiga
2 min de leitura

Em 2020, os brasileiros acabaram sendo barrados ou impedidos de realizar viagens internacionais. Não foram poucos os que perderam compromissos de trabalho e tiveram de enfrentar a saudade de pessoas queridas. Ou mesmo passaram pelas duas situações.

É o caso, por exemplo, da gerente de programas socioambientais Camila Daminello, de 34 anos, que trabalha em uma instituição cuja sede fica nos Países Baixos. Neste ano, ela praticamente colecionou bilhetes aéreos de voos cancelados. Pelo planejamento de janeiro, ela iria pelo menos oito vezes a trabalho para a Europa neste ano. E pretendia fazer ainda duas viagens estritamente pessoais - o namorado dela vive na Itália, onde faz o doutorado.

Para a família Vasconcellos a separação acabou sendo de um ano e meio Foto: Ilislane Vasconcellos

“Seria um ano inteiro de viagens. Cheguei a comprar diversas passagens. A primeira, em março, foi cancelada cinco dias antes. Fiz as malas, troquei dinheiro, comprei presentes, tudo estava preparado”, recorda-se. “Ainda no primeiro semestre, tive mais duas viagens para a Europa canceladas, com passagens compradas e tudo.”

Camila conta que, nos primeiros meses, ela e o namorado passavam a maior parte do tempo livre pesquisando as restrições e as constantes mudanças de regras em cada país, alimentando esperanças e pensando em alternativas improváveis. “Estava muito desgastante. Aí, em maio, mudamos a chavinha.” Os dois estão há quase 11 meses sem se encontrar.

Funcionária de uma instituição do governo italiano, a economista Pauline Vargas, de 42, também tem as viagens internacionais na rotina de trabalho. Em 2020, ela deveria ir pelo menos quatro vezes a Roma. Tudo foi cancelado e seu dia a dia profissional passou a ser repleto de teleconferências.

Ela espera que, tão logo a situação se normalize, as viagens voltem a ocorrer. “Por outro lado, reconheço que viajava muito a trabalho”, comenta. “Gostei de reduzir essas viagens. Quando retomar, espero não voltar no mesmo ritmo.”

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O sociólogo Bruno Santos, de 31, mudou-se há dois anos para a Itália, onde faz doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Ainda na primeira onda da pandemia na Europa, retornou a São Paulo para ficar ao lado da família, já que as aulas passaram a ocorrer online. “Foi muita dificuldade para conseguir embarcar”, recorda. 

Seu plano era voltar à Itália no início do semestre, em setembro. Mas a Itália restringiu os voos que partiam do Brasil. Nesse meio-tempo, venceu sua carta de permissão - o documento provisório que dá a ele o direito, como estudante, de viver como estrangeiro na Itália. “Não pude renovar porque não estava em território italiano.”

Para a família Vasconcellos, a separação que seria de um ano acabou se tornando um ano e meio longe. O tecnólogo Davi Vasconcellos, de 36 anos, se mudou a trabalho para Radovljica, na Eslovênia, em abril de 2019. Pela legislação local, sua família estaria autorizada a viver no país com ele exato um ano depois. Com a pandemia, Vasconcellos só conseguiu dar entrada no pedido de reunificação familiar em maio. O processo demorou mais do que o normal e saiu apenas em julho. Ao chegarem à Eslovênia, a mulher e os dois filhos dele ainda precisaram passar por 14 dias de quarentena. 

O reencontro, como era de se esperar, foi marcado por lágrimas. “Foi emocionante. Nunca imaginamos ficar tanto tempo separados”, diz Ilislane, de 35 anos, a mulher de Davi.

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