Uma crise anunciada

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Por Gilberto Barbosa de Figueiredo
Atualização:

De repente, parece que o mundo desabou. Essa foi a sensação que tivemos, velhos soldados acostumados a ver e entender o Exército como instituição que tem os princípios éticos como norma e a conduta calcada no profissionalismo como preceito primário. Tudo pela atitude insana de um de seus quadros. A perplexidade atingiu em cheio toda a sociedade brasileira. Na torrente da justa indignação geral, algumas indagações têm sido ordinariamente formuladas. Por que tudo aconteceu? Essa é uma das missões do Exército? O Exército está preparado para esse tipo de missão? A missão foi bem atribuída? O fato ocorreu, fruto de uma missão mal atribuída e da atitude impensada de um tenente. Era perfeitamente previsível que os narcotraficantes, vendo seus negócios sendo prejudicados pela presença permanente da tropa, em algum momento iriam incentivar elementos da comunidade a hostilizarem a tropa. E o que era fácil de se presumir aconteceu, com trágicas conseqüências. O Exército sempre cumpriu missões de caráter social, mas em outras circunstâncias. Cito como exemplo o atendimento a populações desvalidas em casos de calamidades ou ao término de exercícios em regiões remotas. Aqui o cenário era completamente diverso e claramente convergia para um desenlace não desejado. O Exército tem de estar preparado para a guerra, para defender a soberania e a integridade de nosso território. Essa é sua missão primordial. Mas também é treinado para missões como a que recebeu, de apoio a uma ação social, e, também, para a garantia da lei e da ordem - uma de suas missões constitucionais. Quanto a ter sido a missão bem atribuída a resposta é: absolutamente não. Os chefes militares, inclusive, a desaconselharam. O governo insistiu, com motivação política muito clara. O caso merece algumas outras considerações. A primeira diz respeito a oportunistas - refiro-me a pessoas e instituições - que não perdem a chance para aparecer e passam, publicamente, a exigir rigor nas investigações e, até, o acompanhamento dos processos. Ora, esse é um dos raros casos de delito rapidamente esclarecidos, pelo menos no que toca aos militares envolvidos, pois os que realmente cometeram o assassinato ainda são desconhecidos. Um segundo aspecto é a competência para o julgamento: Justiça Comum ou Militar? É assunto que caberá aos tribunais decidir. Penso que, se a competência couber à Justiça Militar, o processo correrá com mais celeridade e as penas que tenham de ser aplicadas serão mais severas. Tenho convicção de que nossa gente saberá separar o comportamento insensato de um indivíduo da imagem positiva que tem da instituição. * É general do Exército e presidente do Clube Militar

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