Uma ópera comentada, para ajudar deficientes

''Cavalleria Rusticana'' contará com tradução e audiodescritor

PUBLICIDADE

Por Mônica Cardoso
Atualização:

As amigas Jucilene Braga, de 28 anos, e Daniela Kovacs, de 29, estão ansiosas. Hoje à noite, pela primeira vez, vão assistir a uma ópera. Mas o espetáculo não será inédito apenas para elas. Será a primeira ópera com descrição e tradução para deficientes visuais no Estado. A ópera italiana Cavalleria Rusticana, criada em 1890 por Pietro Mascagni, será encenada no Theatro São Pedro, na Barra Funda, zona oeste. As legendas em português serão projetadas acima do palco, mas os deficientes visuais ganham fones de ouvido para ouvir a tradução simultânea do italiano para o português e a descrição de cenas não verbais durante o intervalo dos diálogos. O audiodescritor fica em uma cabine e usa o mesmo equipamento da tradução simultânea. "Sem a audiodescrição, a ópera seria apenas um espetáculo musical, com o som da orquestra e belas vozes. Com o recurso, tenho as mesmas informações de quem enxerga. Algumas cenas são apenas gestuais, como um beijo, um aperto de mão e, às vezes, um gesto faz todo sentido para entender a história. É como se eu visualizasse as cenas", diz Jucilene. Além do gestual dos personagens, o audiodescritor relata, durante os intervalos, os detalhes do figurino, do cenário e entrada ou saída dos atores do palco. Os organizadores também planejaram uma estrutura para dar apoio ao deficiente visual, que pode ir com cão-guia, recebe o programa do espetáculo em braile e tem ajuda de monitores. É preciso chegar um pouco antes do início da apresentação para ouvir a sinopse. Jucilene já assistiu a outras peças com audiodescrição no Teatro Vivo, o único da capital que oferece o sistema. Pela falta de cinemas e teatros com essa ferramenta, ela tem de pedir ao acompanhante para relatar as cenas. "Em uma peça, uma amiga estava me contando o que acontecia quando a moça sentada na nossa frente pediu silêncio. Eu então expliquei que era deficiente visual e ela até pediu desculpas. Para não atrapalhar, procuro sentar no local mais isolado da plateia", diz. A partir de agora, todas as óperas encenadas no Theatro São Pedro contarão com o recurso da audiodescrição. E outros projetos com acessibilidade estão em andamento. Para o próximo ano, as peças do Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, devem contar com tradução para a linguagem de sinais para deficientes auditivos. "É um projeto piloto que pretendemos estender aos outros teatros do Estado", adianta Mario Masetti, diretor artístico da Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA), que administra seis teatros estaduais. DRAMA COTIDIANO Amores frustrados, traição, morte, vingança. Poderia ser o tema de uma novela das oito, mas é também a trama de Cavalleria Rusticana. Não por acaso, a ópera foi responsável pela criação de uma nova escola de composição na Itália, o verismo. O nome já diz tudo - saem do palco os temas míticos, as intrigas palacianas e ganham voz os personagens da vida real e seus dramas cotidianos. A interpretação está a cargo da Sinfônica Jovem de Guarulhos e do maestro Emiliano Patarra, que nos últimos anos têm participado com regularidade da temporada de óperas do Theatro São Pedro. O destaque, porém, está no elenco: são dois times de solistas, que incluem nomes como os tenores Marcelo Vanucci e Rubens Medina, a soprano Laura de Souza e o barítono Rodrigo Esteves - alguns dos principais cantores da nova geração do canto lírico brasileiro. COLABOROU JOÃO LUIZ SAMPAIO Serviço: Theatro São Pedro, Rua Barra Funda, 171, Barra Funda. Hoje, amanhã e dia 31, às 20h30. Dia 1.º de agosto, às 17h. A cada espetáculo, 15 pares de convites gratuitos serão distribuídos para deficientes visuais.Telefone para ingresso e reserva do fone de ouvido: 7420-1599. E-mail: vagner.nascimento@vivo.com.br. Ingresso: R$ 20 (inteira)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.