Uma oposição consentida

PUBLICIDADE

Por João Bosco Rabello
Atualização:

A desistência do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) de disputar a presidência da Câmara, determinada pela constatação de que não reuniria os votos necessários a uma dissidência na base aliada, mostra também uma oposição envolvida com sua própria sobrevivência e distante de seu papel no processo político.Além de não conseguir o apoio do chamado ''bloquinho'', formado por PDT, PSB e PC do B, Aldo não conseguiu reunir sequer a oposição em torno de seu nome. PSDB e DEM negociaram seu apoio ao acordo que ungirá Marco Maia (PT-RS) presidente da Casa antes mesmo de ele ganhar consistência.Ambos com expressiva redução em seus quadros cuidaram de garantir a preservação da proporcionalidade na distribuição de cargos e espaços nas comissões que já havia antes das eleições. Assim, a derrota eleitoral não representará necessariamente perda de posições no Legislativo.O caso do DEM é mais contundente: seus 43 votos podem ser decisivos em votações estratégicas. Como seriam se houvesse disputa para o comando da Casa.Por ora, garantiu um lugar na Mesa Diretora e a presidência de duas comissões - provavelmente as que já ocupava: Defesa do Consumidor e Meio Ambiente. O PSDB, diz-se, terá uma vice-presidência.Lideranças do DEM justificam o pacto com o adversário como forma de ter meios regimentais mínimos para exercer a oposição. Ainda que consentida.CelebraçãoA saída de Aldo sacramenta o acordo de revezamento no cargo, pelo menos no primeiro biênio que caberá a Marco Maia (PT-RS). Até chegar a vez do PMDB muita água vai rolar na convivência entre os aliados. No momento, ele une o PSB cearense e o pernambucano e aplaca a sede do chamado baixo clero - uma maioria fisiológica de deputados de pouca ou nenhuma expressão política, mas que já elegeu o pernambucano Severino Cavalcante presidente da Casa. Dia 18 próximo, um deles, Valdemar Costa Neto (PR-PR), expoente do mensalão, organizará o jantar de adesão e comemoração a Maia, em Brasília.Constrangimento Aldo Rebelo diz lamentar o acordo entre PMDB e PT pela sua natureza excludente, que considera a negação da própria política. Chegou a confidenciar que foi constrangido por governadores e pelo próprio governo federal para que desistisse da candidatura. O que, na sua avaliação, comprova que ela teria viabilidade, se os interesses imediatistas não se submetessem ao processo democrático.Campo minadoÉ intenção da presidente Dilma Rousseff levar o Brasil ao estágio de enriquecimento de urânio. Quer limitá-lo à Eletronuclear e estimular as parcerias privadas apenas para a exploração. Ela sabe que o tema é sensível e que pisa em terreno minado, mas acha que o País tem uma das maiores reservas do mundo e não enriquece urânio nem para abastecer as usinas de Angra. Ela acha que o País tem credibilidade suficiente para que não se duvide de sua índole pacífica. Direitos HumanosDilma não admite que suas primeiras manifestações no campo das relações internacionais sejam interpretadas como uma inflexão na política externa em relação à era Lula. Mas mantém a determinação de não deixar passar em branco violações de direitos humanos. Sem seletividade ideológica, disse a um interlocutor.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.