‘Uma perda para a humanidade’, diz Unesco sobre casarões destruídos em Ouro Preto

Organização também lamentou danos causados pelas chuvas a imagens sacras de Aleijadinho; diretora fala em necessidade de ações de prevenção

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Por Priscila Mengue
Atualização:

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou uma nota nesta sexta-feira, 14, em que lamenta a destruição dos casarões atingidos pelo desmoronamento em Ouro Preto e os danos causados pelas chuvas a imagens de Aleijadinho do acervo de uma das seis capelas do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. No comunicado, a diretora e representante da entidade no Brasil, Marlova Noleto, destaca a necessidade de ações preventivas e coletivas para a proteção do “nosso patrimônio cultural comum, que tem valor excepcional para todo o mundo”.

Os centros históricos (incluindo edificações e acervos) de ambos os municípios de Minas Gerais são considerados patrimônio mundial desde os anos 1980. “O desastre ocorrido em Ouro Preto, a primeira cidade brasileira inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, constitui uma perda para a humanidade”, disse Noleto. 

Imagens sacras esculpidas por Aleijadinho foram atingidas pelas chuvas em Minas Gerais; Unesco lamentou danos Foto: Prefeitura de Congonhas/Instagram - 08/01/2022

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A Unesco afirmou que reportou ambas as situações ao Centro do Patrimônio Mundial, que monitora a situação dos locais reconhecidos como patrimônio mundial, e à área de Cultura e Emergências da organização. Além disso, apontou estar em contato com o Iphan para a “implementação de importantes projetos de cooperação técnica na área de proteção do patrimônio cultural, para prestar apoio técnico e contribuir com o governo brasileiro no que for necessário”.

A diretora ressaltou que medidas protetivas são ainda mais importantes em meio ao avanço das mudanças climáticas. “Os cada vez mais frequentes desastres por causas naturais devem nos alertar em relação às mudanças climáticas que já estão acontecendo e nos mobilizar a favor de políticas coordenadas de proteção, mitigação de desastres e planos de gestão adequados.”

Em Congonhas, as imagens sacras danificadas foram esculpidas em madeira por Aleijadinho, ainda no período colonial. As esculturas foram afetadas pela água e umidade dos últimos dias. O acervo estava em uma das capelas que integram o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, que reúne ao todo 66 esculturas em tamanho real de sete momentos ligados à Paixão de Cristo.

Casarões históricos foram atingidos por desmoronamento em Ouro Preto; Unesco divulgou nota sobre necessidade de ações de prevenção Foto: Reprodução - 13/01/2022

O conjunto atingido reúne imagens relativas à Santa Ceia, com Jesus e os apóstolos distribuídas no entorno de uma mesa. Em descrição feita pelo Iphan, há a descrição de que o acervo de 66 peças "compõem um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, sendo, sem dúvida, uma das obras-primas de Francisco Antônio Lisboa, o Aleijadinho". Segundo a Prefeitura de Congonhas, os itens foram cobertos com lona, após a identificação de goteiras, mas de forma “paliativa”, enquanto aguarda instruções do Iphan.

Em Ouro Preto, o desmoronamento de terra do Morro da Forca atingiu dois casarões tombados e que estavam interditados há cerca de 10 anos. Um deles (o de dois pavimentos) era conhecido como Solar Baeta Neves e era apontado como o primeiro neocolonial do município. O imóvel teve o restauro entregue em 2010, pelo governo federal, porém foi desocupado anos depois por estar em área de risco e chegou a ser parcialmente atingido por outro deslizamento.

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Na quinta-feira, 13, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento administrativo para investigar as causas do deslizamento que atingiu os dois casarios históricos. “O MPF vai apurar as circunstâncias em que o fato se deu e pedir esclarecimentos dos órgãos envolvidos na tutela dos referidos bens quanto ao motivo do incidente, dimensão dos danos e seus efeitos”, apontou em nota.

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