Unicef vai ajudar a cobrar prefeitos

Fundo trabalhará com comunidades de Rio, SP e Itaquaquecetuba

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Por Marcia Vieira e RIO
Atualização:

Barro Vermelho - favela plana no Complexo da Urucânia, bolsão de miséria em Santa Cruz, na zona oeste do Rio - não aparece nas estatísticas oficiais. Fica a 53 quilômetros do centro. Tem cerca de 4.500 moradores, com renda familiar mensal em torno de R$ 400, vivendo numa área cortada por um valão de esgoto de quase um quilômetro. Os números são estimativas do líder local, Eduardo Tavares, de 39 anos, há 11 vivendo num "puxadinho" em cima da casa de três cômodos da mãe. A área é dominada por milícia. Há uma creche, com lista de espera de 500 crianças. Nenhuma ONG atua em Barro Vermelho. "Morar numa favela da zona oeste é completamente diferente de morar numa favela da zona sul", afirma Luciana Phebo, coordenadora do Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. "Na zona oeste, as políticas públicas não chegam." Ela fala com autoridade de quem passou 2008 percorrendo comunidades e conversando com moradores. A peregrinação foi o primeiro passo para montar um ambicioso projeto - a Plataforma de Centros Urbanos, que além do Rio vai beneficiar comunidades em São Paulo e Itaquaquecetuba (SP). O Unicef não vai dar dinheiro para ONGs em favelas como Barro Vermelho, uma das 84 inscritas no programa que selecionará dez. Vai estimular a organização dos moradores para que elaborem uma pauta de reivindicações a ser discutida com o poder público. O foco é melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o do Rio, Eduardo Paes (PMDB), assinaram carta se comprometendo a "priorizar políticas públicas que reduzam as iniquidades e garantam os direitos de cada criança e adolescente das diversas regiões do município, com o firme propósito de alcançar as metas". Não são metas fáceis. Entre as 20 listadas pelo Unicef estão reduzir homicídios entre adolescentes negros, aumentar vagas em creches e reduzir número de adolescentes em conflito com a lei. Como não há dados oficiais nas comunidades, o Unicef e o Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, vão ajudar moradores a fazerem neste ano pesquisa para levantar indicadores sociais. Em 2011, o levantamento se repete para ver se melhoraram. O resultado será divulgado no último ano dos mandatos de Kassab e Paes. E se nada melhorar? "Nós chegamos até aí. Ajudamos a mobilizar os moradores, fazemos a articulação política com os gestores, mas a execução das políticas não é da nossa competência", diz Luciana. "Os prefeitos assinaram o compromisso. Isso é um fato político que abre portas." No momento, o mais difícil vai ser escolher as dez comunidades cariocas. O número de interessados surpreendeu. A seleção passa por critérios definidos pelo escritório da ONU, Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), no Rio, e Instituto Sou da Paz, em São Paulo. O fundamental é que cada comunidade consiga formar um grupo articulador, com adultos, adolescentes e representantes de governo e ONGs. "Queremos reunir dez comunidades, num território de 5 mil famílias em cada uma, abrangendo áreas bem diferentes e com perfis distintos. Uma favela em evidência, outra desconhecida. Algumas dominadas por tráfico, outras por milícias. Uma que esteja no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), outras não", explica Luciana. A lista final sai este mês. No Barro Vermelho, Eduardo Tavares já mobiliza mais de 20 pessoas, incluindo 15 adolescentes, por uma vaga na Plataforma. Jovens querem acesso a escola, camisinha, programas para reduzir gravidez, diversão. "Aqui só temos lan houses e rua", reclama Gabriel da Silva, de 16 anos.

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