
07 de março de 2011 | 08h29
Era apenas a abertura de um filme que passou primeiro na cabeça do carnavalesco Paulo Barros, hoje o mais inovador do Rio, ganhou aval de toda a comunidade e saiu do Sambódromo confirmando o favoritismo tijucano. “Paulo Barros é gênio, e gênio, quando aparece, é assim mesmo, há resistência”, dizia, na concentração, o presidente da Tijuca, Fernando Horta, mandando um recador aos puristas, críticos do estilo de Barros.
Comerciante e negociador de obras de arte, Horta injetou boa parte dos R$ 9 milhões gastos no desfile – outra parte veio dos shows feitos pela escola depois do carnaval de 2010, quando do campeonato (a comissão de frente, por exemplo, tem apresentação agendada até o fim deste mês).
Muito compenetrado, Barros, que manteve os ensaios em sigilo e acompanhou tudo pessoalmente, dava instruções até os minutos que antecederam ao desfile. O carnavalesco, que costuma dizer que sua meta é divertir o público, conseguiu o que queria. Declaradamente fã de Joãosinho Trinta, a quem se atribui a verticalização do carnaval, com a introdução de alegorias muito altas, ele fez um desfile para quem via a avenida de cima, com carros em que a ação se passava no topo. Por exemplo, no que representava “Tubarão”, o ataque do bicho não foi visto por quem assistia nos andares inferiores. “Meu desfile é para ser visto de todos os ângulos”, justifica.
Outras referências cinematográficas que usou foram “Harry Potter”, representado por um carro muito aplaudido, em que um banquete entre os alunos de Hogwarts era realizado numa mesa suspensa, “Na Montanha dos Gorilas”, com os macacões se balançando em cipós, e “Indiana Jones”, com direito a uma bola gigante “correndo” atrás do personagem.
Barros tinha prometido uma escola mais solta do que em anos anteriores, mas o que se viu foram muitas alas e componentes de carros alegóricos executando coreografias, como ele gosta – e o povo também. Há quem diga que tantas marcações tiram a espontaneidade do carnaval. Há quem critique também suas inovações, dizendo que o que vem fazendo é bonito, é criativo, mas não é escola de samba. Quem poderá dizer que não? Só os jurados.
O samba empolgou, a bateria de Mestre Casagrande – com a apresentadora Adriane Galisteu, mãe há sete meses, mas com a cinturinha de antes, à frente – foi bem, o fechamento com Zé do Caixão deu o tom do enredo que “faz piada da morte”, nas palavras de Barros. No entanto, a Tijuca foi prejudicada pelo som, que falhou várias vezes, e por problemas no seu abre-alas, que emperrou a dispersão. A gigantesca alegoria teria custado, sozinha, R$ 2 milhões, por conta de seus efeitos de luz. Nada pareceu, entretanto, prejudicar a escola, que hoje figura entre as maiores do Rio. Aos 80 anos, a agremiação nunca teve uma torcida grande; agora, há quem venha ao Sambódromo só para vê-la.
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