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Usuários deturpam pesquisas, diz especialista

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Por Redação
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A ideia de recorrer aos antirretrovirais, tanto antes de fazer sexo sem proteção como depois, na tentativa de corrigir "a besteira", tem origem nas informações deturpadas sobre a ciência médica. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, a procura indiscriminada pelo turbilhão de medicamentos após a relação sexual sem preservativo, já chamada de "coquetel do dia seguinte", começou porque chegaram ao público informações erradas sobre o protocolo de saúde. São dois casos em que não portadores são orientados a tomar a medicação. Primeiro, quando a pessoa é vítima de violência sexual, para evitar um possível contágio. Ou quando um profissional de saúde (médico, dentista, enfermeiro) sofre um acidente de trabalho e tem contato com sangue do paciente. "A indicação é restrita e não há nenhuma comprovação de que funciona como estratégia de prevenção", afirmou Maria Filomena Cernicchiaro, do Centro Estadual de Treinamento em DST/Aids. "Mas temos recebido pessoas que querem o medicamento porque esqueceram do preservativo depois da noitada. Alguns já chegaram até a ameaçar com violência diante da recusa, sem nem cogitarem os efeitos colaterais que essas medicações podem acarretar." Já a proposta de ingerir os medicamentos antirretrovirais antes mesmo de ter a relação sexual foi sequela de uma deturpação de novas pesquisas da medicina. "Começaram testes iniciais em camundongos sem ainda nenhuma evidência de que funcionam", afirma Éper Kállas, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP. Em 2006, um grupo de médicos coordenado por Kállas começou a estudar a pré-profilaxia em algumas pessoas que têm comportamento de altíssimo risco (como frequentadores de casas de sexo grupal que não usam preservativo). O chamado Iprex (www.iprex.org.br) teve 40 voluntários cadastrados. "Estamos estudando, mas ainda não temos nenhuma resposta para as perguntas se é seguro, tolerável e eficaz", ponderou Kallas.

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