Vale tudo para pôr um celular na cela

Secretaria descobre 15 métodos usados pelos detentos em SP

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Por Marcelo Godoy
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Não há limites para a imaginação dos presos quando se trata de arrumar um jeito novo para burlar a segurança dos presídios. Documento da Secretaria da Administração Penitenciária mostra 15 novos métodos usados pelos detentos das 147 unidades prisionais de São Paulo para obter telefones celulares. A ameaça pode vir pelo ar, trazida por pombos, pipas e aeromodelos, ou pode se esconder na chupeta de uma criança e até dentro da cabeleira black power de um visitante. Tudo para fugir das revistas, dos aparelhos de raios X e dos detectores de metais instalados nas prisões - um sistema que apreende um celular a cada uma hora e sete minutos nas prisões. Só no ano passado, foram 7.723 celulares apreendidos no Estado nas revistas gerais e de visitantes. "Os presos fazem de tudo. Cada novidade detectada pela inteligência é informada a todos os presídios", afirmou o secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes. Uma dessas inovações é o chamado método da cabeleira. Consiste em abrir um compartimento na forma do celular dentro da cabeleira black power da pessoa responsável por levar o celular para o presídio. O aparelho é colado no couro cabeludo e um tampão feito com os cabelos cobre o celular. Foi no dia 13 de junho de 2008 que os agentes da Penitenciária 3 de Lavínia descobriram o aparelho na cabeça de um homem que ia visitar um preso. Outro método descoberto pelos agentes em 2008 foi o de ocultar o aparelho celular na chupeta de uma criança que ia visitar o pai, um preso da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na região oeste do Estado. É nela que estão encarcerados os mais perigosos presos de São Paulo, incluindo os chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC). O aparelho foi achado pelos agentes depois de o detector de metais ter mostrado algo estranho na chupeta. O caso é descrito no relatório na mesma página em que está o de um aparelho de televisão que escondia telefones. O documento traz ainda exemplos de telefones escondidos dentro de pacotes de bolacha, de uma caixa de remédio enviada por Sedex, do controle remoto de uma televisão e escondidos no chinelo ou em uma escova de cabelo - e até mesmo nos botões de uma blusa feminina. "Houve até um caso em que uma visita levava três aparelhos dentro de sua perna mecânica", afirmou o secretário Gomes. MOTIVAÇÃO Tanto esforço para entrar com celular em presídio tem razão de ser. Desde a década passada, o celular se transformou na principal arma do crime organizado para controlar ações de dentro dos presídios e manter unidos na chamada "sintonia" os diversos grupos ligados ao PCC. Segundo, porque mesmo os presos comuns precisam dos aparelhos para fazer as "correrias", os negócios, pequenos expedientes e crimes de que muitas vezes vive um preso, como o caso do golpe do falso sequestro. Por fim, o telefone é usado para namorar e manter o contato com a família.

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