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Velocidade do avião não era a ideal, segundo agência europeia

Falha teria sido detectada quando aeronave passava por uma tempestade depois de Fernando de Noronha

Por Andrei Netto e PARIS
Atualização:

O Airbus A330-200 que realizava a rota Rio-Paris na noite de domingo viajava em "velocidade errada", segundo reportagem publicada no jornal francês Le Monde. A publicação credita a informação a autoridades ligadas à investigação, mas sem revelar seus nomes. A afirmação é, ao menos em parte, confirmada em nota oficial pelo Escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil (BEA), o órgão que vai tentar esclarecer as causas da tragédia. A falha teria sido detectada no exato momento em que o avião atravessava uma tempestade. A informação se soma a todas as hipóteses aventadas para tentar explicar a razão do acidente do voo AF 447. A reportagem do Le Monde não esclarece se a velocidade da aeronave no momento da queda seria superior ou inferior à ideal. Ainda de acordo com o texto, a Airbus distribuiria ao longo do dia uma "nota técnica" na qual recomendaria às companhias que têm aviões A330 o respeito às instruções do manual da aeronave. À primeira vista, a recomendação parece óbvia, mas não é incomum que procedimentos padrões não sejam obedecidos para condições específicas, como o enfrentamento de mau tempo. "O construtor quer lembrar que, em caso de condições meteorológicas difíceis, suas tripulações devem conservar a potência das turbinas e manter a estabilidade correta para manter o avião em linha", de acordo com o BEA. BÁSICO Modificar a velocidade do jato numa turbulência é considerada uma ação básica na aviação por pilotos. É a primeira coisa a se fazer quando se voa em zona de tempestade, como a região percorrida pelo voo 477 da Air France na noite de domingo. É a mesma coisa que dirigir um veículo numa estrada esburacada, quando o condutor desacelera para evitar trancos e também avarias no carro. Entretanto, no céu, ao baixar a velocidade do jato em zona turbulenta, o avião sofre mais com as intempéries climáticas, principalmente os fortes ventos. Só não se pode baixar demais e chegar ao ponto "stol", quando não há sustentação e a baixa potência do motor faz a aeronave "estolar", no jargão aeroviário, ou fazer cair o avião com a cauda voltada para baixo. "Não confirmamos a informação porque apenas o BEA poderá comunicar fatos relacionados à investigação", informou Claudia Müller, porta-voz da Airbus, na sede de Toulouse, no sul da França. Até o final da noite de ontem, a instrução não havia sido veiculada. A porta-voz do escritório, Martine Del Bono, também não negou tampouco confirmou a publicação de uma instrução técnica sobre o assunto. Minutos depois, contudo, o BEA publicou nota oficial em que indica, de forma implícita, que a informação do Le Monde pode estar correta. Segundo o texto, "neste momento da investigação" foi constatada, a partir da análise das mensagens automáticas transmitidas pelo avião, "a incoerência das diferentes velocidades medidas". Além disso, o texto confirmou também "a presença nas proximidades da rota" do voo 447 do avião francês acidentado a ocorrência de mau tempo e de tempestade. A QUEDA Outra forte polêmica na França diz respeito ao momento no qual o avião teria se partido. Conforme o jornal Le Figaro, a aeronave teria se desintegrado antes de cair no oceano. Mesma versão apresentada anteontem pelo ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, e ontem amplamente criticada. A teoria se baseava no raio de mais de 300 km no qual estariam dispersos os fragmentos detectados nos trabalhos de busca comandados pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Marinha - ontem mesmo esses supostos destroços foram descartados como sendo do avião desaparecido. COLABOROU EDUARDO REINA

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