'Vi um tanto de criança saindo, todas com pó preto pelo corpo e chorando'

Mãe de vítima internada em Belo Horizonte conta o desespero vivido na creche em Janaúba após o ataque

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Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE - Pouco mais de 24 horas se passaram entre a entrega da filha à creche Gente Inocente, na manhã de quinta-feira, 5, em Janaúba, na região norte de Minas Gerais, e a vigília pelo estado de saúde da menina em um hospital de Belo Horizonte. Ilanete de Souza, mãe de Sara Emanuele, de 5 anos, viajou durante a madrugada para acompanhar o tratamento da criança, transferida para a capital em estado grave na noite de quinta com queimaduras pelo corpo e nas vias aéreas.

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"Levei a Emanuele, voltei pra casa e, por volta das 9 horas, recebi o telefonema de uma amiga, perguntando se eu já tinha ido à creche, porque havia um incêndio lá. Na hora, pensei que o botijão de gás da escola havia explodido. Quando cheguei, vi um tanto de criança saindo, todas com um pó preto pelo corpo e chorando muito", conta Ilanete. "Havia um cheiro muito forte de gasolina."

Emanuelle chegou a sair andando da creche. Mais tarde, porém, por ter inalado muita fumaça, foi para o hospital e, em seguida, teve que ser transferida para Belo Horizonte, já em estado grave.

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No início da tarde desta sexta-feira, 6, já mais calma com a notícia de que a filha havia melhorado, apesar de ainda estar na unidade de terapia intensiva (UTI), Ilanete contava a amigos na porta do Hospital Municipal Odilon Behrens o que aconteceu na creche da filha. "Era dia de brincadeira, por causa da Semana da Criança. Tinha cama elástica. Todos estavam muito alegres."

Ilanete relembrava que o momento de brincadeira foi interrompido pelo vigia, que chegou jogando gasolina nas crianças e professoras. "Em pouco tempo, o teto, que era de material de fácil combustão, começou a cair em bolas de fogo sobre os meninos."

Cerca de 50 alunos e professores estavam na creche no momento da tragédia. Foto: Polícia Militar/Minas Gerais

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Vítimas

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A filha de Ilanete estava entre as três crianças vítimas do incêndio na creche transferidas nesta sexta do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, para o Hospital Municipal Odilon Behrens, também na capital. Todas chegaram à cidade na noite de quinta. Ao todo, 11 crianças vítimas da tragédia foram transferidas para Belo Horizonte, além de duas professoras.

Outras 14 crianças e duas mulheres seguem internadas em Montes Claros, por queimaduras no corpo, vias aéreas e inalação de gases. No hospital de Janaúba permanecem internadas 13 vítimas: doze crianças e um adulto.

Outra família que está em Belo Horizonte acompanhando o tratamento de vítima do incêndio na creche é a de Flávia Nayara Dias, de quatro anos, internada no João XXIII com 80% do corpo queimado.

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"O pai pede muito a Deus que nos dê forças. Ele afirma que, nesse momento, só Deus pode ajudar", afirma o tio da menina, Paulo César Pereira de Oliveira, que passou a manhã à espera de notícias sobre o quadro clínico da sobrinha. "O pai não teve acesso à menina. Vamos ter que esperar", afirmou Paulo, que permanecia na entrada do Odilon Behrens por volta do meio-dia, junto com outros parentes da menina. 

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