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Vigilância Sanitária retira 16 t de lixo de casa de idoso

Homem juntou durante 20 anos em seu lar tudo o que considerava útil

Por Agencia Estado
Atualização:

Durante 20 anos o aposentado Enos Antunes do Amaral, de 62 anos, foi acumulando em sua casa, no centro de Porangaba, a 170 quilômetros de São Paulo, tudo o que considerava material útil, como jornais, quadros, livros, louças e panelas velhas. Na semana passada, em razão das queixas insistentes dos vizinhos, funcionários da Vigilância Sanitária foram ao local e encontraram um verdadeiro depósito de lixo. Além de sucata e papel velho, haviam gatos mortos, restos de alimentos, ratos e fezes humanas. O lixo ocupava parte da sala, a cozinha, o banheiro e um quarto, além de todo o quintal. A casa foi interditada. A prefeitura precisou fazer 53 viagens de caminhão para remover todo o entulho, com peso calculado em 16 toneladas. O material contaminado foi incinerado. Durante a blitz os agentes encontraram em uma cama a irmã do aposentado, Eolina Antunes do Amaral, de 72 anos. Doente e sem tomar banho havia meses, ela já não conseguia andar. A mulher foi levada de ambulância para o Hospital Regional de Sorocaba e, depois de medicada, encaminhada para a casa de parentes. O aposentado foi retirado da casa e levado para uma pensão. Como se negava a tomar banho, teve de ser transferido para um abrigo. O imóvel foi limpo, dedetizado e lacrado. Esta semana, vai passar por uma limpeza com lava jato. Segundo Gomes, a residência tem as portas, janelas e o telhado avariados. "Estamos pedindo ajuda da população para uma reforma." Segundo ele, a família é conhecida e mora faz muitos anos na cidade. A comerciante Claudete de Oliveira, dona de uma padaria vizinha da residência, disse que está aliviada. "Era um problema manter os ratos afastados." Não foi o único caso na região. Há dois meses, em Tatuí, a prefeitura retirou seis caminhões de lixo da residência de um sucateiro. O hábito de guardar objetos sem valor por longo tempo pode ser sintoma de um distúrbio psiquiátrico. Quando o entulho oferece risco à saúde pública, o dono do imóvel pode ser autuado com multas que variam de R$ 140 a R$ 139 mil. Em Porangaba, segundo Gomes, a vigilância sanitária optou por não autuar o aposentado por questão de "humanidade". Agentes sanitários passam mal Os agentes sanitários que fizeram inspeção na casa do aposentado chegaram a passar mal em razão do estado deprimente em que se encontrava o local. Em dez anos de atuação na Vigilância Sanitária, o coordenador Florisval Gomes disse que nunca tinha se deparado com algo semelhante. "Fiquei três dias sem conseguir comer." A irmã de Amaral estava tão debilitada que, segundo Gomes, poderia ter morrido se não recebesse socorro. Cães e gatos que dividiam o mesmo quarto também espalharam fezes sobre a cama. Amaral não queria permitir a fiscalização e chegou a procurar advogados para impedir a retirada do lixo, que considerava material valioso. "Felizmente, nenhum deles aceitou a causa", disse Gomes. A operação, acompanhada pela Polícia Militar e pelo promotor público do município, chamou a atenção dos 7,2 mil moradores da cidade. Entre o material coletado, havia exemplares de jornais com data de 1912 e uma coleção completa da revista Playboy. Como tudo estava contaminado com excrementos de ratos, traças e baratas, a Vigilância optou por incinerar o material. Segundo Gomes, no local onde se encontra atualmente, Amaral acabou consentindo em tomar banho e aparar uma parte da barba. Quando voltar para casa, ele terá de assinar um termo comprometendo-se a mantê-la limpa e sem acúmulo de lixo.

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