Vila dos sonhos, e da TV, está protegida

Condephaat tomba conjunto de casas na Barra Funda, zona oeste

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Por Vitor Hugo Brandalise
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Uma vila de sonho, entre galpões e prédios no bairro operário da Barra Funda, zona oeste da capital. Na Rua Vitorino Carmilo, entre as Alamedas Ribeiro da Silva e Eduardo Prado, um conjunto de 14 casas de arquitetura eclética, com tijolos aparentes, ornamentado com gárgulas e colunas em estilo grego, é daqueles de levar o transeunte a diminuir o caminhar. Ao menos por 40 passos, deve-se perguntar: como é que isso tudo continua aqui? Construída em 1939 para residências de classe média alta e após processo de degradação que quase a levou a virar cortiço na década de 1980, a Vila Parque Residencial Savoia agora está definitivamente protegida: foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), em processo que levou 15 anos para ser concluído. O parecer favorável foi publicado ontem no Diário Oficial do Estado. O Parque Savoia, com projeto do engenheiro Arnaldo Maia Lello - autor também do edifício do antigo Cine Paramount, hoje Teatro Abril - foi construído para moradia da família Iungano, até hoje proprietária do conjunto, e também para aluguel. Hoje, porém, ninguém mais mora ali: desde o início da década, o conjunto abriga apenas escritórios - embora a placa na entrada ainda avise aos "distintos residentes" a proibição de pessoas "extranhas". Durante os anos 1990, a vila ficou conhecida pelos mercados publicitário e do cinema - foi cenário de inúmeros comerciais (muitos locatários lembram de quando, no ano passado, Ivete Sangalo esteve ali para gravar comercial da Avon). Filmes como Amigo Secreto, de 2004, com direção de Marcio Salem, também foram filmados na vila. Locatários também citam novelas da Record e da Bandeirantes. Mas, se for solicitada referência imediata, deve-se logo dizer: o Parque Savoia ambientou o primeiro episódio da série Castelo Rá-Tim-Bum, programa infantil de sucesso da TV Cultura nos anos 1990. No episódio, a vila aparecia em primeiro plano, com o castelo ao fundo, avistado pela primeira vez pelos protagonistas. Entre quem trabalha na vila, a palavra é "oásis". "Sair de casa no meio da fumaça dos carros, do buzinaço, e entrar aqui não tem preço", diz a empresária Elisabete Venegas, proprietária de escritório contábil no conjunto 3 da vila - fica ao lado do chafariz, de azulejos pintados com motivos rurais. Ao longo das unidades, há jardins com roseiras, palmeiras e uma grande figueira. "Vimos o lugar e tivemos certeza: nosso coletivo teria de ficar aqui", afirma o publicitário Felipe Meyer, da Casa de Cultura Digital, instalada há um mês no local. "É outro mundo." CAMPINAS Na mesma reunião, o Condephaat tombou o Instituto Agronômico de Campinas, construído em 1887. Praticamente todo o conjunto foi protegido - os dois edifícios principais, a antiga residência do diretor, três estufas, muros, portões de ferro e o traçado do parque.

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