Vila Madalena na ponta do lápis

120 pessoas se reuniram para retratar o bairro no Sketchcrawl; evento aconteceu em 95 lugares do mundo

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Por Renato Machado
Atualização:

Sem se preocupar com mais nada ao redor, uma jovem de ascendência japonesa visualizava o grafite em um muro do outro lado da rua e depois baixava os olhos para continuar os rabiscos em seu caderno. Em poucos minutos a página branca se transformava na paisagem de uma esquina do Beco do Batman, na Vila Madalena. A poucos metros dali, o rosto da garota também começava a aparecer no caderno de um outro homem, que, assim como ela e outras 120 pessoas, decidiram passar a tarde de sábado desenhando o bairro e o que mais quisessem na primeira edição brasileira do Sketchcrawl. A ideia do evento surgiu em 2004, em uma despedida de solteiro em São Francisco, na Califórnia. Os amigos elaboraram um roteiro de dez pubs para visitar e beber com o noivo, mas só chegaram até o sétimo. Um dos participantes era o ilustrador italiano radicado nos Estados Unidos Enrico Casarosa, que decidiu adaptar o programa (sem álcool) e sair com seus amigos de profissão para visitar - e desenhar - diversos pontos da cidade. Em quase cinco anos, o Sketchcrawl se espalhou por outros locais do mundo. No sábado foi realizada a 21ª edição do evento, que aconteceu simultaneamente em 95 locais de todos os continentes. O ilustrador Montalvo Machado, de 42 anos, queria participar, mas até então o evento nunca havia sido realizado no Brasil. No final do ano passado, ele próprio decidiu assumir a responsabilidade de organizar aqui. "Eu fiz 80 etiquetas para identificar as pessoas, mas achava que só viriam umas 20. Fiquei surpreso quando contei mais de 120." O grupo se encontrou em um restaurante da Vila Madalena e depois saiu pelo bairro, com pausas para sessões de desenho. A Vila foi escolhida aleatoriamente, já que os organizadores querem participar de futuras edições, retratando outros bairros. Depois de uma parada longa no Beco do Batman, todos se espalharam pelas ruas. Algumas pessoas mais preparadas trouxeram cadeiras e estojos de lápis sofisticados. A maioria, no entanto, estava somente com um caderno e um lápis e preferia sentar no chão. Cada um decidia o que desenhar: casas, ruas, pessoas ou obras abstratas. Daniel de Almeida (conhecido como 3-D), de 23 anos, retratou uma vendedora de loja na esquina entre as Ruas Harmonia e Wisard. "Eu risquei rápido a posição dela, porque ela poderia sair. Depois fiquei mais tempo observando os detalhes", diz 3-D, que veio de Diadema para o evento. Perto dali estava o diretor de animação e professor Carlos Avelino, de 35 anos, um dos mais experientes com mais de 17 anos de profissão. "O ilustrador tem um trabalho muito confinado. Então é bom de vez em quando sair, conversar com colegas e ver outros trabalhos." A participante mais nova foi a estudante Maria Carolina Pace, de 14 anos. Junto com o pai, ela acompanhou o grupo durante todo o trajeto. "Eu aprendi sozinha copiando outras coisas. Só lembro de uma dica que me passaram: dar importância para a ?observação?, para prestar bastante atenção no objeto antes de desenhar." Os gaúchos de Porto Alegre Henrique Manfroi, de 23 anos, e Laís Tissiani Dutra, de 21, resolveram interromper as férias para se dedicar ao hobby. Os dois vieram a São Paulo para visitar amigos, também aficionados por ilustração, e não se importaram quando foi sugerido que abrissem mão de um dia de turismo pela capital para participar do evento. "É o que gostamos de fazer, então não foi nenhum sacrifício", diz Henrique, que trabalha como criador de artes para jogos e que desenhou um símbolo bem paulistano, um pedaço de pizza. Montalvo Machado diz que todo o material será reunido em uma página na internet para que outras pessoas vejam, principalmente os participantes dos outros países. "Vamos conhecer cidades do mundo pelos desenhos, assim como eles vão conhecer a Vila Madalena."

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