Violência dos protestos derruba Brasil em ranking de liberdade de imprensa

Repórteres Sem Fronteira coloca o País em 111.º na classificação entre os 180 pesquisados; ONG destaca 5 mortes e 114 'atores de mídia' feridos no que chama de 'Primavera brasileira'

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Por Andrei Netto
Atualização:

PARIS - O grau de liberdade de imprensa piorou no Brasil em 2013, e o País é o pior das Américas em número de jornalistas mortos. A advertência foi feita nesta quarta-feira, em Paris, pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteira (RSF), que não poupou críticas ao Brasil e aos Estados Unidos. Em dois anos, o País despencou 12 postos na classificação, ocupando o 111.º lugar, por culpa dos riscos das coberturas de crime organizado e corrupção.

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O Brasil, que no ano passado aparecia em 108.º lugar, perdeu três posições. Para efeitos de comparação, a Argentina aparece em 55.º lugar. À frente do País estão ainda a República Centro-Africana, nação em guerra e sob intervenção internacional, em 109.º lugar, e Uganda, em 110.º. "Ricos por sua diversidade, Estados Unidos e Brasil deveriam enaltecer a liberdade de informação como norma jurídica e como valor. A realidade está infelizmente longe de corresponder a essa ambição", diz a RSF.

Segundo o levantamento, as mortes de profissionais pesaram em 2013. "Com cinco jornalistas mortos ao longo do ano, o Brasil aparece no sinistro ranking como o país mais mortífero do continente para a profissão, um lugar ocupado até então por um México bem mais sangrento."

Só durante os choques acontecidos durante as manifestações de junho, 114 "atores de mídia" - jornalistas e outros profissionais de imprensa, além de jornalistas-cidadãos - ficaram feridos, alerta a organização. "A repressão policial muito forte que o Brasil sofreu em 2013 também se abateu sobre os atores de informação", completa o texto.

Começo ruim. Para Camille Soulier, responsável do Escritório Américas da RSF, as manifestações no Brasil - que a organização chama de "Primavera brasileira" - "foram graves para a liberdade de imprensa. "A polícia é responsável por mais de dois terços das agressões", disse Camille ao Estado, advertindo para a alta polarização política no País, que, segundo a organização, favorece a violência contra jornalistas. "E, a julgar pela morte recente de um cinegrafista (Santiago Andrade, da Band), o ano não começa bem." Além dos protestos, a RSF destaca o crime organizado e as ameaças e agressões que jornalistas do interior do país sofrem por investigarem ou denunciarem a corrupção, o tráfico de drogas e o de matérias-primas.

A ONG critica ainda a concentração dos veículos de imprensa nas mãos de "dez grupos familiares que compartilham o espaço de difusão" e menciona as pressões jurídicas que pairam sobre o jornalismo no Brasil. "As injunções de censura contra os veículos de mídia e contra jornalistas engarrafam os tribunais, atendendo a pedidos de políticos servidos por uma justiça complacente", diz o relatório.

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