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Vista como lazer, bicicleta faz 7,4% dos deslocamentos

Por Moacir Assunção e Carolina Spillari
Atualização:

Apenas 7,4% dos deslocamentos - o que equivale a cerca de 15 milhões de viagens diárias - são feitos em bicicleta no Brasil. O número é da Associação Nacional do Transporte Público (ANTP). Na Europa, ao contrário, as magrelas constam de todos os planejamentos de trânsito. "São Paulo não tem estrutura para bicicleta, embora haja uma enorme demanda reprimida. Ela ainda é vista como um brinquedo, embora cada vez mais pessoas a usem para trabalhar", afirmou o cicloativista André Pasqualini, que organiza, sempre na última sexta-feira do mês, na Praça do Ciclista, entre a Avenida Paulista e a Rua da Consolação, um evento conhecido como "bicicletada". Algumas novidades, como a construção de uma ciclovia de 1,8 km em Parelheiros, na zona sul - e duas em obras, na Radial Leste (de 12,2 km) e na Avenida Inajar de Sousa (de 7 km), prometidas para o segundo semestre -, a instalação de bicicletários nas novas estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e na Estação Guilhermina-Esperança, do Metrô, além de iniciativas como a formação dos ciclistas do futuro no Parque das Bicicletas, na zona sul, prometem trazer um cenário mais favorável às bikes na metrópole. A cidade precisaria, por baixo, de pelo menos 300 km de ciclovias, ante os 49,7 km (veja quadro acima) que terá quando as duas forem concluídas. Há, entretanto, obstáculos institucionais e a inércia da Prefeitura e da sociedade para enfrentar o problema. Para sair do papel e virar realidade, as ciclovias percorrem um caminho tortuoso na administração municipal - a maioria acaba engrossando a fila de projetos não executados. As propostas que surgem das próprias subprefeituras acabam sem um agente que as atenda. Isso porque entre os órgãos envolvidos no trânsito do Município não há tradição cultural no assunto bicicletas, afirma a coordenadora do Grupo Executivo da Prefeitura para Melhoramento Cicloviário - o Pró-Ciclista, Laura Ceneviva. "Não existe quem cuide da circulação não motorizada formalmente. Há uma falta de cultura da bicicleta como meio de transporte, não somente em São Paulo, mas em muitas partes do mundo." O fato é que na cidade isso é ainda mais complicado, conforme comprovam os números. Segundo ela, o que falta para a concretização das vias para bicicletas, assim como ciclofaixas e sinalização adequada, são os agentes envolvidos - 31 subprefeituras, Coordenação das Subprefeituras, Secretaria Municipal de Transportes, São Paulo Transporte (SPTrans), Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras (Siurb) e Ceab (responsável pelo assentamento da população de baixa renda) - assumirem a questão. "Esses inúmeros órgãos sempre necessitam da colaboração da CET, que é quem controla o tráfego e opera a infra-estrutura, a circulação." Para o engenheiro de tráfego e consultor da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet) Horácio Figueira, ciclovias e ciclofaixas deveriam fazer ligações entre bairros e não estar só em áreas de fazer. "Estacionamentos para bicicletas deveriam surgir em meio aos exclusivos para carros", sugeriu. "Mudar a forma de locomoção é quebrar paradigmas dentro da cultura do automóvel, que é um câncer."

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