Vítimas da cratera têm casas saqueadas

Bandidos arrombaram imóveis de idosas, que estão interditados, e levaram TVs, microondas, jóias e fiação

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Por Naiana Oscar
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Em 12 de janeiro de 2007, Maria Rossi, de 79 anos, e Maria do Carmo Criscuolo, de 87, vizinhas por quatro décadas, tiveram de deixar às pressas suas casas, na Rua Capri, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. A poucos metros do quintal, uma cratera se abriu no canteiro das obras da Linha 4 do metrô, provocando sete mortes. Ontem, no dia em que a tragédia completou um ano, as duas famílias receberam outra má notícia: as casas, que continuam interditadas, foram saqueadas. Segundo vizinhos, o roubo ocorreu há uma semana, mas só ontem eles conseguiram avisar os filhos das duas moradoras. Os ladrões pularam o muro e arrombaram as portas. Da casa de Maria Rossi, levaram duas TVs, um microondas e jóias. A aposentada está morando com um filho e deixou os pertences em casa, porque não tinha para onde levar móveis e eletrodomésticos. "Ela não sentia medo, tinha certeza de que ninguém ia entrar", disse o neto Marcelo Rossi, de 42. Logo depois do acidente, Maria do Carmo foi morar com a filha. Há dois meses mudou-se para um imóvel alugado, deixando só móveis velhos na Rua Capri. Mesmo assim os assaltantes arrombaram a janela da cozinha e roubaram a fiação. "Os vizinhos nos contaram que viram homens no telhado. Eles devem ter subido para tentar invadir outras casas", disse Walkíria Rossi, de 61 anos, filha de Maria do Carmo e nora de Maria Rossi. Até a noite as duas mulheres não tinham sido avisadas sobre o roubo. "Não sabemos como contar, vai ser mais um golpe", disse Walkíria. "Nem temos coragem de trazer as duas aqui. Se virem as casas desse jeito, abandonadas, com mato no quintal, vão ficar ainda mais doentes." Maria do Carmo, por exemplo, teve dois enfartes em cinco meses. Os gastos hospitalares foram pagos pelo Consórcio Linha Amarela, responsável pela obra. No fim de 2007, Maria do Carmo recebeu R$ 70 mil de indenização e Maria Rossi, R$ 50 mil. O dinheiro, segundo os parentes, é para as duas se manterem até conseguirem novo imóvel. "Mas, para isso, aguardamos o dinheiro que a Prefeitura prometeu para a desapropriação", disse Walkíria. A Prefeitura afirmou que não tinha como prestar ontem informações sobre os processos. Ontem foi rezada missa na Catedral da Sé em memória dos mortos na tragédia. Nenhum parente das vítimas esteve no local. O secretário-adjunto de Transportes Metropolitanos, José Francisco Mansur, foi à igreja, mas não quis dar entrevista.

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