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Voz oficial do Aeroporto do Galeão, no Rio, sairá do ar

Serviço de anúncio dos voos em tom 'aveludado' foi interrompido em todo o País pela Infraero

Por Clarissa Thomé
Atualização:

Até o fim do ano, quem frequenta o Aeroporto Internacional Tom Jobim não ouvirá mais a voz da atriz e locutora Íris Lettieri, que há 32 anos anuncia, com timbre aveludado, as chegadas e partidas de voos no aeroporto. A Infraero decidiu interromper o serviço de alto-falante dos aeroportos do País. O argumento é de que a medida irá reduzir a poluição sonora, provocada pelo elevado número de mensagens nos horários de maior movimento.

 

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De acordo com nota divulgada nesta sexta-feira, 3, desde outubro de 2008 estão suspensas as chamadas no saguão dos aeroportos da Infraero. Mas nem todos os 67 aeroportos do País adotaram a medida, que vale para Brasília há 7 anos e há quatro para Guarulhos. A assessoria de imprensa do Tom Jobim informa, por exemplo, que ainda não tem data marcada para encerrar o serviço.

 

Segundo a Infraero, cabe às companhias aéreas fazer o chamado para o voo na sala de embarque. Quem estiver circulando pelo aeroporto, seja tomando um café ou nas lojas, deve se orientar pelos painéis eletrônicos - também são as empresas que devem encaminhar passageiros cegos ou deficientes auditivos.

 

O problema é que nem sempre os painéis estão funcionando. José Carlos Rosa, administrador chefe do Contato Radar, fórum que reúne 7 mil aeronautas, aeroviários e estudiosos de aviação, já perdeu voo por conta da desatualização do painel. "Eu estava em Congonhas e a TAM fez a chamada, mas eu não ouvi. No painel o voo pulou de confirmado para fechado. Eu e um grupo de passageiros perdemos o embarque", conta.

 

Rosa, no entanto, é favorável à medida. "Causa mesmo poluição sonora. O brasileiro está acostumado a ser chamado no alto-falante. Mas no exterior há muito tempo não tem esse serviço nos aeroportos", afirma.

 

O diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, acredita que a interrupção do serviço possa provocar confusões. "Em Brasília, onde a sala de embarque é pequena, ou Guarulhos, que tem salas estanques, não vejo problemas. Mas no Galeão há aquele saguão enorme. A norma não deveria ser geral".

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O diretor disse que vai discutir a medida com o sindicato e pretende procurar a Infraero para negociar a melhor solução. "Há ainda a questão psicológica. Uma voz como a da Íris Lettieri acalma o passageiro. Não se pode esperar que todo os funcionários das companhias aéreas tenham uma voz como a dela".

 

O músico Roberto Menescal, assíduo frequentador do Aeroporto Internacional, ficou surpreso com a decisão da Infraero de acabar com o serviço de alto-falante no saguão. "É melhor que tirem os aviões do que tirarem a voz da Íris Lettieri. Diz para deixarem, pelo menos, no Tom Jobim", brincou.

 

A voz da locutora tem tanta importância para os frequentadores do aeroporto, que muitos passaram a gravar as chamadas dos voos como recordação de viagem - há vários vídeos publicados no YouTube. Ela também tem comunidades em homenagem à sua voz "sussurrante e poderosa" no Orkut.

 

A assessoria de Íris informou que ela estava viajando, mas que renovou recentemente o contrato com a Infraero e não tinha conhecimento da interrupção do serviço. Por conta do avanço da tecnologia, ela grava as palavras uma a uma (números, nome de companhias aéreas e portões de embarque). As frases são montadas por computador.

 

Íris, de 67 anos, havia sido locutora de rádio, apresentadora de telejornal, modelo e atriz antes de se tornar a voz oficial do Aeroporto do Galeão. Depois disso, foi convidada a emprestar sua voz a outros aeroportos do País e a fazer comerciais de tevê - tão requisitada que se acostumou a levar na bolsa uma gravação do aviso sonoro que precede o anúncio dos voos.

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