Acusado de envolvimento na morte de Tim Lopes chega ao Rio

Traficante carioca contou como o bando liderado por Elias Maluco prendeu, julgou e executou o jornalista

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Por Elvis Pereira
Atualização:

O adolescente de 17 anos apreendido recentemente em Alagoas sob suspeita de ter participado do assassinato do jornalista Tim Lopes deverá chegar no Rio no final da tarde desta terça-feira, 9, à Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA). Às 18 horas, o delegado titular da especializada, Deoclésio Francisco de Assis, concederá uma coletiva sobre o caso. A decisão de transferir J.S.T. foi tomada pelos juízes da 17º Vara Criminal de Alagoas, que atuam no combate ao crime organizado no Estado. Os magistrados disseram que atenderam a solicitação da juíza da Vara da Infância e da Juventude do Estado do Rio de Janeiro. O acusado esteve preso na sede do Tático Integrado de Grupamento de Resgates Especiais (Tigre), no bairro do Farol, em Maceió. Segundo o diretor-geral da Polícia Civil de Alagoas, delegado Carlos Alberto Reis, ainda não há uma data exata para a transferência, mas deve ser esta semana. Carlos Reis disse que encaminhou cópia do depoimento do traficante ao secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Segundo Reis, cópias das impressões digitais de J.S.T. foram enviadas ao Rio para sejam checadas com a cópia da certidão de nascimento do acusado. "Queremos saber se ele é mesmo menor de idade", afirmou Reis. Quanto à participação de J. na morte de Tim Lopes, o delegado não tem mais dúvida. "Ele mesmo confessou, com riqueza de detalhes, em seu depoimento, mostrando passo a passo como teria sido processado todo o ritual do assassinato do jornalista da TV Globo", completou o delegado. Em depoimento à polícia alagoana, o traficante carioca contou como o bando liderado pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, seqüestrou, julgou, torturou e matou o repórter. Segundo J., depois de ter sido descoberto com uma câmera na Favela Vila Cruzeiro, na Penha, o jornalista foi colocado à força no porta-malas de Audi A3 e levado até o alto do morro, num local isolado da comunidade conhecido como mata. Nesse local, segundo relato de J., Tim teria sido amarrado a árvore e espancado por todo o grupo. Alheio aos pedidos de clemência do repórter, que, segundo ele, implorava para não ser morto, Elias Maluco teria usado uma espada ninja para feri-lo. O relato do jovem traficante carioca confirma que, em seguida, os criminosos iniciaram uma sessão brutal de torturas contra o jornalista, que ainda teve o corpo queimado. J. descreveu aos policiais alagoanos o passo-a-passo da selvageria contra Tim Lopes. Na época, disse que tinha apenas 12 anos e confessou ter sido incumbido por Elias Maluco de descer o morro para buscar gasolina e depois atear fogo ao corpo de Tim. Para não deixar que as chamas apagassem, ele teria lançado gasolina mais duas vezes no repórter. Por sua participação no assassinato, o jovem traficante afirma ter recebido R$ 250. Além dele e do líder da quadrilha, pelo menos mais sete traficantes também teriam participado da tortura e execução do repórter da TV Globo. Segundo J., a sessão de tortura teria começado por volta de meia-noite e se estendido até às 3 horas da madrugada.

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