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Análise: População precisa ser libertada de violenta rotina em favelas

'Questão de fundo que atravessa todos os Estados é o fato de que o perfil do crime mudou e o sistema de segurança continua operando como fazia há 30 ou 40 anos'

Por Sérgio Adorno
Atualização:

A situação no Rio de Janeiro é extremamente crítica, mas temos de levar em consideração que a condição de segurança na maior parte dos Estados brasileiros não é muito diferente. Esse foco acaba sendo nos cariocas porque a cidade é um cartão-postal para o mundo inteiro, e as cenas de violência deixam todos indignados ao verem a que ponto a violência chegou.

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A questão de fundo que atravessa todos os Estados é o fato de que o perfil do crime mudou e o sistema de segurança continua operando como fazia há 30 ou 40 anos. Esse sistema geralmente se baseia em cercar territórios onde habitam trabalhadores de baixa renda e no encarceramento. Dentro das prisões, o crime organizado se alimenta e se expande a partir dessas políticas.

No Rio, não é muito diferente disso. Há um histórico de lutas entre facções criminosas, em que elas se digladiam pelo controle dos negócios ilegais nos territórios de favelas e coloca a população civil em uma situação absolutamente degradante.  Vejam, a base de uma sociedade democrática é o princípio da liberdade, o direito de ir e vir, o direito de expressão de ideias e participação social.

A grande parcela da população das favelas, com essa violência, fica oprimida de um lado pelo tráfico, pelo crime organizado e, por outro, pelas intervenções policiais, que não são nada pacíficas. As vinganças entre as partes são permanentes. Isso cria um cenário de inferno para quem lá vive.

Não se pode sair de casa para ir trabalhar ou saber se o filho estará em segurança na escola. É apavorante.  Não é somente um futuro distante que está sendo bloqueado diante de tamanha violência vivida nessas cidades. É a própria perspectiva de um amanhã. É uma situação que exige das lideranças uma política de Segurança Pública que desarme essa armadilha e liberte a população dessa rotina.  É COORDENADOR CIENTÍFICO DO NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA (NEV) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

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