Atualizado às 22h25
RIO - Moradores do Morro da Providência, no centro do Rio, depredaram 12 ônibus que saíam da garagem da viação São Silvestre, próxima de um acesso à favela, em protesto contra o assassinato de Eduardo Felipe dos Santos Victor, de 17 anos. Os cinco policiais militares acusados da morte e de forjar um confronto com a vítima foram presos e indiciados por fraude.
Os tiroteios em favelas tidas como “pacificadas” pelo governo do Rio prosseguiram nesta quarta-feira: no complexo do Alemão morreram um suspeito de 21 anos e o soldado Caio César Ignácio Cardoso de Melo, de 27, que desde os 14 anos dublava o personagem Harry Potter no cinema.
As filmagens feitas por moradores do Morro da Providência mostraram que os policiais colocaram uma pistola na mão direita de Victor, possivelmente já morto, e dispararam duas vezes. Victor que, segundo moradores, integrava a quadrilha de traficantes da região, foi enterrado à tarde no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio.
A família evitou os jornalistas, mas se manifestou pelo Facebook. “Gostaria de pedir a todos que respeitem os meus sentimentos e dos meus familiares. Queremos preservar apenas as boas lembranças que meu filho nos deixou”, escreveu a mãe, Patrícia Santos.
Os cinco policiais flagrados pelas filmagens foram indiciados por fraude processual. Um outro inquérito investiga se Victor foi executado ou participava de troca de tiros entre PMs e suspeitos. Os soldados Éder Ricardo de Siqueira, Gabriel Julião Florido, Riquelme de Paulo Geraldo, Paulo Roberto da Silva e Pedro Vítor da Silva trabalhavam na UPP da Providência e estão presos no Batalhão Prisional. Eles respondem ainda a processo na Justiça Militar.
O advogado Felipe Simão, representante dos policiais, negou que os agentes tenham forjado a cena. “Quando uma munição fica em cima da outra, ela ‘trepa’. Por uma questão de segurança, ele tinha de fazer o disparo, só que aí, por medo, ele acabou fazendo a bobeira que ele fez, mas não foi para manipular a cena do crime”, disse.
A vítima vinha sendo monitorada pela polícia por suposto envolvimento com o tráfico de drogas e tinha antecedentes por ameaça, injúria e tráfico. Uma filmagem da PM mostra o rapaz vendendo entorpecentes em uma boca de fumo.
“O Estado não deu oportunidade para este jovem. Não queremos UPP, queremos Justiça. A UPP faz mal para a comunidade”, disse o comerciante Pablo Rodrigues, ex-presidente da Associação de Moradores da Providência.